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«certamente, Descartes nunca viu um macaco»

Carl Linnaeus, Systema Naturae (1735)

 

A crise ambiental e civilizacional associada ao Antropoceno tem vindo a revelar a urgência da alteração de procedimentos que lhe estão ligados e o questionar de modelos que os sustentam.

A situação agravou-se nas últimas décadas, sem que medidas de fundo tenham sido aplicadas e sem que surjam sinais de um elaborar e incorporar filosófico da ecologia nos campos disciplinares diversos, embora a fractura instituída nas sociedades hiperindustrializadas em relação à dimensão cosmobiológica da vida na Terra se tenha tornado evidente.

O esclarecimento desse corte convoca a necessidade de um maior conhecimento da História do Vivo e a importância do mapear desse território. A dificuldade de acesso a documentação especializada e a preocupante transversalidade do desconhecimento sobre a realidade ecológica em diversas áreas do conhecimento, é simultânea com o colocar em causa do paradigma dominante nos últimos séculos. Quer num movimento minoritário que parte das diversas áreas do estudo e do saber para a vida pública e o sujeito, quer numa série de convulsões que emergem na sociedade e na Natureza, e têm o seu reflexo também na academia.

Numa perspectiva de Transferência de Conhecimentos, a plataforma e jornal Animalia Vegetalia Mineralia pretendem ser uma janela para o panorama ecomedia e ecocritico, os estudos ambientais e estudos animais (que nas últimas décadas emergem nos vários domínios teórico-artísticos) e para a reflexão sobre a relação humano/não-humano em curso em algumas áreas do pensamento e que urge concretizar e divulgar.

Participa na criação de uma arte de viver adequada a estes tempos, outros que não os helénicos da teckné tou biou, mas em que também estes convocam uma (re)formulação do pensamento e acto de vida e de ser vivo; uma forma de vida que congregue a existência do sujeito nas suas múltiplas valências. Numa perspectiva ontológica, o mínimo e o máximo denominador comum deste contexto micro e macro-cósmico, é a vida. É, por isso, sobre o vivo que este espaço se debruça.

«surely Descartes never saw an ape»

Carl Linnaeus, Systema Naturae (1735)

The environmental and civilization crises linked to the Anthropocene show us that we urgently need to change the patterns associated with them and to question the validity of the models that sustain them.

The situation has worsened in recent decades. Although the fracturing away of developed societies from the cosmobiological dimension of life on Earth has become all too clear, no substantive steps have been taken and there have been no warnings stemming from philosophical debate, nor has there been any incorporation of the implications of ecological crisis into the various related subject fields.

An analysis of this schism demands greater knowledge of Living History and highlights the importance in mapping this territory. The difficulty in accessing relevant knowledge and the worrying extension of ecological ignorance across many fields of study occurs at the same time contemporary realities call into question the dominant paradigms we have used in recent centuries. Being this by minority movements arising from different areas of studies to intent on informing the public debate or because of a series of social and ecological upheavals subsequently been analyzed also in academic fields.

On the perspective of Knowledge Transfer, Animalia Vegetalia Mineralia aims to offer a panoramic window both onto ecomedia, ecocriticism and animal studies (which in recent decades have encompassed various theoretical and artistic fields) and also onto debates currently underway in several areas of thought relating to the relationship between human/non-human.

Being involved in creating a new “art of living” appropriate for these times – other than those of the Greek teckne tou biou – it also calls for a (re-) formulation of thought and ways of living – a way of life which reconciles the currently fragmented, multiple modes of existence of the contemporary subject. From an ontological perspective we are dealing with no less than all of life and our choices about how we live on our planet in micro and macrocosm. Therefore, it is around the living itself that the space of Animalia Vegetalia Mineralia will talk about.