arte e ecologia / art and ecology

português/english

.

.

Encontro com Kayavak / Meeting Kayavak, Melody Owen

( crónica / report – no. X . 2018-2019 )

Modos e Maneiras no Antropoceno, conversa com Fernando Ianomâni sobre a Arte Primitiva da Terra / Modes and Manners in the Anthropocene, interview with Fernando Ianomâni about the Primitive Art of the Earth, por/by Ilda Teresa de Castro

( entrevista / interview – no. IV . 2017-18 )

sobre a Arte Planetária e o Tecnoromantismo, conversa com Stéphan Barron sobre Arte e Ecologia / on Planetary Art and Technoromanticism, interview with Stéphan Barron concerning Arte & Ecology / sur L´Art Planétaire et le Technoromantisme, entretien avec Stéphan Barron a propos de L´Art & Ecologie, por/by Ilda Teresa de Castro

( entrevista / interview – no. I . 2014 )

.

.

Encontro com Kayavak

por Melody Owen*

.

Às vezes, alguns minutos − apenas algumas centenas de segundos − podem conter um mundo. Pode acontecer quando o olhar de dois humanos se cruza pela primeira vez. É a conexão que prolonga o tempo, como um arco num violoncelo tocando uma nota longa. Pode acontecer também quando as espécies se encontram. Para mim, aconteceu quando pela primeira vez olhei nos olhos de uma baleia beluga.

Fui fazer a minha graduação numa escola de uma pequena cidade, na costa leste dos Estados Unidos.

© Melody Owen

Conduzi até lá no meu carro, desde Portland, no Oregon, numa viagem longa mas divertida porque ia comigo um amigo. Parámos no Parque Yellowstone e passámos uma noite num teepee em Montana. E conduzimos um 4-rodas.

© Melody Owen

Se tivesse ido sozinha, provavelmente não teria parado sequer, excepto para dormir. Foi o que fiz no regresso a casa e foi terrível. Mas o Phillip Cooper é bom a fazer paragens durante as viagens, uma qualidade que vale a pena reter. A nossa última paragem juntos foi em Chicago. Aí eu deveria deixá-lo e continuar por conta própria, mas ele convenceu-me a fazer mais uma, no Aquário Shedd. A princípio resisti, sentindo a pressão da estrada. Mas tive a sorte de ele estar presente e de me impedir. Caso contrário, teria perdido esse mundo contido num momento.

Até aí, eu apenas tinha experimentando o Aquário Shedd objectivamente, como instituição, nas suas exibições deslumbrantes de animais em cativeiro, presos, a um mesmo tempo belos e trágicos. Estávamos no ano de 2006. Os telemóveis e as câmaras digitais contagiavam de uma maneira massiva. As pessoas começavam a usar as telas como interface consistente para as suas experiências, principalmente dentro das instituições, em eventos e museus. Conjuntos de telas estavam colocados nos tanques por todo o aquário.

Eu fui um desses humanos e segurei uma câmara de vídeo. Disse a mim mesma que era diferente, porque estava documentando o que o filósofo Giorgio Agamben chamou de Profound Boredom, o comportamento estereotipado dos animais nos parques zoológicos; andando, lambendo, balançando. E estava a documentar esse comportamento para a minha tese.

Foi enquanto o fazia que o tempo parou por alguns minutos. Focava a minha pequena câmara no tanque de cima quando uma baleia beluga nadou directamente por baixo de mim e divertidamente me borrifou com a boca cheia de água. Todo o meu ser foi invadido de prazer: uma baleia estava a brincar comigo! Mantive a câmara sobre ela enquanto ela nadava e se afastava um pouco mas ainda observando-me: parecia examinar-me também através da ecolocalização.

Lá estava ela na água quando nos olhamos, olhos nos olhos.
Ainda se moveu a procurar o seu lugar mas parecia-me quase quieta porque esse foi o momento em que para mim o tempo se desdobrou. Senti uma sensação de interrogação ou saudação ou curiosidade. Senti uma sensação de inteligência.

© Melody Owen

O seu nome, dado por humanos, é Kayavak e ela nasceu no aquário. Não pretendo ter sido especial para esta baleia. Ela é uma celebridade, a viver sob um terrível holofote e eu era uma entre milhares.
Acredito que a comunicação entre espécies acontece, mas seria um pensamento mágico afirmar que isso aconteceu neste caso. As mentes das baleias, sendo encarnadas de maneira tão diferente da nossa, têm formas muito distintas de percepção e de comunicação. Existem abismos entre as espécies mas também há ligações e momentos de conexão, como cordas lançadas através de pontes.

Esta não foi a minha primeira experiência de conexão ou simplesmente reconhecimento de inteligência com outra espécie. Nesse sentido, os gatos sempre foram grandes companheiros. Não gente, mas pessoas. Foram eles que me ensinaram que se alguma coisa me olha é porque existe alguém por trás desse olhar.

Desta vez, o alguém era uma baleia. As baleias são seres extraordinários. Não mais mágicos do que os gatos, mas certamente mais raros em termos de oportunidade para encontros cara a cara. Sem mencionar que as baleias beluga e todas as pequenas baleias dentadas são mesmo excepcionalmente fofas e suaves e grandes e fantasmagóricas, como um alienígena ou um anjo. Fiquei tão intrigada que quando cheguei à escola, imediatamente as pesquisei para ver onde viviam no mundo natural. Acontece que vivem perto do Alasca e perto da Rússia, mas também no rio Saint Lawrence, que ficava a norte de onde eu estava. Então, dirigi-me para lá.

Conduzi até uma cidade chamada Tadoussac. É uma pequena cidade do Quebec, à beira de um rio, com um museu de baleias e um enorme hotel elegante pintado de vermelho e branco, que poderia entrar num filme de Wes Anderson.

© Melody Owen

Foi aí que fui no meu primeiro barco de observação de baleias. Foi aí que pela primeira vez vi uma baleia azul; ela e o seu bebé nadaram muito perto de mim. Vi-a voltear as costas através da água. Vi a cauda. Lembro-me de estar molhada, de não estar vestida adequadamente, de uma vaga sensação de outros humanos, e de um jogo de sedução com um rapaz canadiano no albergue da juventude, que me fez mais tarde lamentar não ter seduzido mais. Vi belugas também, a partir da costa. Elas pareciam pérolas. Depois de uma breve pausa, voltei para a escola, sem parar.

Pesquisei a área em redor de Tadoussac e descobri uma residência artística em Est-Nord-Est, localizada ao sul de Tadoussac, numa cidade chamada Saint-Jean-Port-Joli. Era um belo porto. Candidatei-me à residência e no Verão seguinte, fui para lá.

© Melody Owen

Dessa vez, fui num veleiro. Estávamos cercados de belugas. O rio estava tão quieto que eu podia ouvi-las respirar quando emergiam para o ar. Havia pelo menos vinte. Foi o assistente da carpintaria que nos levou no seu barco. Mais tarde, ensinou-me a usar o torno para que eu pudesse fazer a minha primeira peça sobre o som de animais.

© Melody Owen

Descarreguei o som de chamamentos de beluga na internet, imprimi a forma dessa onda sonora e dei o meu melhor para a imitar em três dimensões, esculpindo-a num bloco de madeira. Essa peça inspirou-me a propor um lustre em vidro, a partir da forma da onda sonora.

© Melody Owen

O lustre é modelado a partir das imagens das ondas sonoras das aves ameaçadas do Oregon. Foi feito um ano mais tarde por um soprador de vidro que criou longas mechas de vidro azul que caem trinta pés a partir do centro de uma escadaria no The Nines, um luxuoso hotel de Portland. O som foi instalado como parte da peça, e as luzes LED no vidro em cascata acertam o tempo com o canto dos pássaros. É uma peça linda e tenho de a agradecer à jovem beluga.

© Melody Owen

Acabei de concluir o meu segundo mestrado. Este, em humanidades ambientais. Estudo a linguagem animal e a filosofia em torno do pós-humanismo, e de ideias relacionadas com a subjectividade animal. Embora o meu encontro com Kayavak não tenha sido o meu primeiro encontro com um animal na minha jornada através deste País das Maravilhas, levou-me a dedicar-lhes a minha vida. Não posso falar por uma baleia, mas enquanto humana que conheceu uma baleia, entre algumas outras criaturas também, enquanto ser humano que tem feito amizade com elas o melhor que pode, posso-me comprometer com a causa delas. Posso dizer: olhem para o que eu vejo! São como eu, mas diferentes de mim! Todos eles são alguém, os animais.

*Melody Owen é uma artista e escritora conceptual multidisciplinar ecológica, criada no estado verde e musguento do Oregon. É representada pela Elizabeth Leach Gallery em Portland e tem um Mestrado em Artes Electrónicas Integradas, bem como um Mestrado em Artes Ambientais e Humanidades, recentemente criado. Os seus meios incluem a colagem, a curadoria, o vídeo e a instalação. Exibiu o seu trabalho no Portland Art Museum, na Nine Gallery, na PDX Gallery, no Art Gym, no Reed College e em muitos outros locais e festivais ao redor de Portland, nos Estados Unidos e no mundo. Projectou um lustre de 30 pés, modelado segundo as formas das ondas sonoras do canto dos pássaros e que está permanentemente instalado no Hotel Nines, no centro de Portland. Participou de prestigiadas residências artísticas em Paris, Quebec, Islãndia, Suíça, Califórnia e Oregon. Tem livros publicados por diversas editoras em Portland, além de ter sido incluída em colecções de artistas do Oregon, e escolhida pela Artforum Critic´s Pick em 2015. Tem feito curadoria de vídeo para o festival Portland Institute of Contemporary Art TBA, Universidade Cornell, Hallwalls e Echo Park, em Los Angeles. Os seus interesses convergem em torno das preocupações com a rápida destruição do meio ambiente e está particularmente interessada nos animais enquanto seres subjectivos, com as suas próprias formas incorporadas de linguagem e de cultura – e sobre como a evolução recente da tecnologia, especialmente os mundos virtuais, pode fornecer uma oportunidade de repensar suposições normalizadas sobre nós mesmos em relação ao resto do mundo natural.

tradução ilda teresa de castro

.

.

Meeting Kayavak

by Melody Owen*

.

Sometimes, a few minutes – just a few hundreds of seconds – can contain a world. It can happen when the eyes of two humans meet for the first time. It is the connection that draws time out like a bow on a cello playing a long note. It can happen when species meet as well. For me, it happened when I first met the eyes of a beluga whale.

I went to graduate school in a small town on the east coast of the United States.

© Melody Owen

I drove my car out there from Portland, Oregon. It was a long drive but a fun drive because I went with a friend. We stopped at Yellowstone Park, we spent a night in a teepee in Montana and drove 4-wheelers.

© Melody Owen

Left to myself, I would likely have never stopped except to sleep. That’s what I did on the way home, and it was terrible. But Phillip Cooper is good at stopping, a good skill to have. Our last stop together was Chicago. I was supposed to drop him off and continue on my own, but he convinced me to make one last stop, the Shedd Aquarium. I resisted at first, feeling the pressure of the road. It’s lucky Philip was there to stop me. Otherwise, I would have missed that world within a moment.

Up until then, I had been experiencing the Shedd Aquarium objectively, as an institution, the gorgeous displays of trapped and imprisoned animals, at once beautiful and tragic. It was 2006. Cell phones and digital cameras were catching on in a massive way. People were beginning to consistently interface with their experiences through a screen. This was happening mostly within institutions; at events or museums. Clusters of screens were held up to tanks all over the aquarium.

I was one of these humans. I held a video camera. I told myself I was different though because I was documenting what the philosopher Giorgio Agamben termed Profound Boredom, stereotypic behavior by animals in zoos; pacing, licking, rocking. I was documenting this behavior for my thesis.

It was while I was documenting that time stopped for a few minutes. I was pointing my small camera into the tank from above when a beluga whale swam directly underneath me and playfully sprayed me with a mouthful of water. My whole being was instantly filled with delight. A whale was playing with me. I kept the camera on her while she swam a little ways away from me in the pool and still watching me, seemed to examine me through echolocation as well.

She was still in the water as we looked into each other’s eyes. Not still in place; she moved in the water. But she seemed almost still because this is when time just buckled for me. I felt a sense of asking or greeting or curiosity. I felt a sense of intelligence.

© Melody Owen

The whale’s given name (by humans) is Kayavak. She was born at the aquarium. I don’t presume to have been special to this whale. She is a celebrity, living in a terrible limelight. I was one of thousands.

I believe that cross species communication does happen, but it would be magical thinking to claim that it happened in this case. Whale minds, being embodied so differently than ours, have vastly different forms of perception and communication. There are chasms between species, but there are also both bonds and moments of connection, like rope bridges thrown across.

This was not my first experience feeling a connection or simply a recognition of intelligence with another species. Cats have always been fellow persons in that sense. Not people, but persons. They were likely the ones who taught me that if a something is looking at me then there is a someone in there who is doing the looking.

This time, the someone was a whale. Whales are extraordinary beings. Not more magical than cats but certainly more rare in terms of opportunity for face to face meetings. Not to mention that beluga whales and all small toothed whales are just exceptionally cute and smooth and large and ghostly like an alien or an angel. I was so intrigued that when I got to school, I immediately researched them to see where they live in the wild. It turns out that they live near Alaska and near Russia, but also in the Saint Lawrence River which was directly north of me. So I drove up there.

I drove to a town called Tadoussac. It is a small Quebec town on the edge of a river with a whale museum and a huge elegant hotel like you would see in a Wes Anderson movie, painted red and white.

© Melody Owen

It was here that I went on my first whale watching boat. It was here I saw my first blue whale; she and her baby swam in the river so near. I saw her back wheel through the water. I saw her tail. I remember being wet, not properly dressed, a vague sense of the other humans, flirting with a Canadian boy at the youth hostel, regretting later that I hadn’t flirted more. I saw belugas too, from the shore. They looked like pearls. After a brief pause, I drove back to school without stopping.

I researched the area around Tadoussac and discovered an artist residency, Est-Nord-Est It’s located south of Tadoussac, in a town called Saint-Jean-Port-Joli. It was a pretty port. I applied for the residency, and the next summer I went there.

© Melody Owen

That time, I went out on a sailboat. We were surrounded by belugas. The river was so quiet that I could hear them breathe when they came up for air. There were at least twenty of them. It was the woodshop assistant who took us out on his boat. Later, he taught me how to use the lathe so I could make my first piece, about animal sound.

© Melody Owen

I downloaded snippets of beluga calls from the internet, printed out the sound waveform and did my best to emulate its shape in three dimensions through carving it out of a wood block. This piece inspired me to propose a chandelier made of sound waveform in glass.

© Melody Owen

The chandelier is modelled after the songs of endangered Oregon birds. . It was made a year later by a glass blower who created long strands of blue glass, which fall thirty feet down the center of a stairwell in The Nines, an upscale Portland hotel. Sound has been installed as a part of the piece, and the LED lights in the glass cascade in time with the birdsong. It is a beautiful piece and I have that young beluga to thank for it.

© Melody Owen

I just completed my second master’s degree. This one is in environmental humanities. I now study animal language and the philosophy around posthumanism and ideas related to animal subjectivity. Although my encounter with Kayavak wasn’t my first meeting with an animal in my journey through this Wonderland, it caused me to dedicate my life to them. I cannot speak for a whale but as a human who has met one, and some other creatures too, as a human who has befriended them as best I can, I can commit myself to their cause. I can say look at what I see there. It is a someone. Like me, but unlike me. They are all someones, the animals.

* Melody Owen is an ecologically minded conceptual multi-disciplinary artist and writer raised in the mossy, green state of Oregon. She is represented by Elizabeth Leach Gallery in Portland and has an MFA in Electronic Integrated Arts as well as a freshly minted MA in Environmental Arts and Humanities. Her mediums include collage, curation, video and installation. She has shown her work at the Portland Art Museum, Nine Gallery, PDX Gallery, the Art Gym, Reed College, and many other venues and festivals around Portland, the United States and the world. She designed a 30 foot chandelier modeled after the sound waveforms of birdsong which is permanently installed at the Nines Hotel in downtown Portland. She has participated in prestigious artist residencies in Paris, Quebec, Iceland, Switzerland, California and Oregon. She has had books published by several small presses in Portland as well being included in Oregon artist collections, and was an Artforum Critic’s Pick in 2015. She has curated video work for Portland Institute of Contemporary Art TBA festival, Cornell University, Hallwalls, and Echo Park in Los Angeles. Her interests have coalesced around concerns about the rapid destruction of the environment and she is especially interested in animals as subjective beings with their own embodied forms of language and culture – as well as how recent developments in technology, especially virtual worlds, may provide an opportunity to rethink normalized assumptions about ourselves in relation to the rest of the natural world.

.

.

Modos e Maneiras no Antropoceno

conversa com Fernando Ianomâni sobre a Arte Primitiva da Terra

por Ilda Teresa de Castro

.

This slideshow requires JavaScript.

 .

Nos últimos anos tens desenvolvido o que chamas Arte da Terra usando pedras. Podes partilhar como surgiu o teu envolvimento com este processo de trabalho? Como tudo começou, o que te inspira e quais as técnicas e metodologias que usas?

O início

A Arte da Terra Primitiva vem-me de um profundo fascínio desde miúdo pelas tribos Indígenas e Aborígenes. Comecei com a música, com a descoberta do Djembe, percussão que na altura estava na “moda” e continuei a tocar quando deixou de estar na moda. Conjuntamente com o Djembe aderi ao Didgeridoo que me abriu as portas para a Meditação. Mal eu sabia a importância que a meditação iria ter num longo processo de transformação e transição; pois com a prática da respiração consciente ligada à prática do Didgeridoo, e a prática da meditação, comecei a desenvolver uma nova consciência. Com altos e baixos, pois a meditação não é um processo linear, contrariamente ao que é descrito  em alguns livros. Consoante o Karma de cada praticante, existem flutuações e variações entre uma paz sublime e uma euforia − qual pulo de bungee jumping ao bom estilo Aborígene; como uma corda seca que não estica e dá a sensação constante de que vai partir a qualquer momento mas nunca parte; pois é a corda o que nos mantém, mesmo inconscientemente, ligados à linha da vida durante todo o processo de despertar da consciência interior na descoberta de quem somos de verdade.

A inspiração

Emergiu então em mim uma necessidade interior que tenho vindo a observar cada vez mais presente na consciência colectiva. Um apelo suave e delicado. Espalhar aos 4 Ventos que A Grande Mãe Terra proporciona grandes momentos de felicidade sem nada cobrar em troca − que está presente no bébé que nasce no seio da família, na paisagem que contemplamos num local que nunca antes tínhamos tido o prazer de observar, ou nos locais que todos os dias visitamos e nos fazem sentir em casa, mesmo que não sejam a terra de nossos antepassados. É a Terra Mãe que nos acolhe. É a ela que devo a arte e a imaginação que permite transmitir o meu trabalho. É um grito. De despertar, de mudança de paradigma, de alteração da percepção.

Técnicas

Os desenhos são inspirados em formas de Geometria Sagrada presentes na Natureza. As técnicas recorrem ao uso de moldes em forma de círculo com várias medidas, usados para criar padrões simples e repetitivos, com impacto visual forte e perfeito. Ao uso do corpo, e.g. mãos ou distância entre as pernas, como medida exacta. E eventualmente alguns acessórios ocasionais. Todas estas técnicas estão directamente ligadas à Geometria Sagrada.

Método

Na preparação para a construção deve-se meditar, visualizar várias vezes o desenho durante o caminho até ao local de construção escolhido, esvaziar a mente, e acalmar o coração e o espírito com canções suaves ou cânticos com inspiração em Ohm. Muitas vezes, chegado ao lugar de criação, tudo o que foi previamente projectado é pura e simplesmente abandonado e a ideia de criação muda, dando lugar a uma nova. E assim, libertando a imaginação e a capacidade criatividade para atingir a Máxima Liberdade no momento de dar lugar às criações.

Referiste as capacidades terapêuticas, meditativas e a conexão profunda e poderosa que os desenhos têm quando feitos com boas intenções. E que estes processos buscam o mais primitivo e ancestral no ser humano. Podes falar um pouco sobre estes aspectos?

A Arte Primitiva da Terra como o próprio nome indica, é a base que permitiu desenvolver todos os métodos de Meditação, foco, concentração, respiração, inspiração, visualização, criatividade, e imaginação mas também a conexão com a realidade da Natureza. Essa conexão tem de ser trabalhada. Quem nunca se preocupou em mergulhar de cabeça dentro de si mesmo, naquele mergulho a que a maioria foge com desculpas fúteis ou subterfúgios, até eliminar as ilusões que povoam as mentes, tem de trabalhar essa conexão. As pessoas comuns e “civilizadas” evitam-no, nunca chegando a conhecer os próprios defeitos e qualidades, numa falta de harmonia e consequente desequilíbrio que se espelham no modelo de vida seguido pela população ocidental − é aqui que entram os abusos de várias substâncias nas mais variadas categorias, do venenoso açúcar à nova droga sintética da moda ou ao estabelecido álcool, como droga e mau comportamento permitido pela sociedade. É nestes campos adulterados e desviados que A arte da Terra Primitiva faz o seu cântico terapêutico e apela a todos que olhem para trás, para o começo de tudo. Há milhões de anos não existiam estes “esconderijos” urbanos, estes facilitadores que nos adoecem e que, de século para século, fazem com que a Consciência Ancestral dos nossos Ancestrais se perca. Só de lés-a-lés alguém se interroga “como seria no Tempo dos Originais da Terra”? Como faziam Meditação, como entravam em Transe? Como tiveram culturas tão avançadas numa época em que, supostamente, tudo era arcaico, tosco e em que pouco ou nenhum conhecimento como o entendemos hoje, existia? Como faziam eles as maravilhas que no nosso século podemos verificar com uma simples busca no Google?

Nesses tempos, com a prática da tentativa e erro como ciência básica, perdeu-se o medo de fazer experiências. O pensamento era livre e tinha ao seu dispor a inocência e a iniciativa de nada possuir, com a suprema vontade de viver como se cada dia fosse o mais importante da vida. Houve vigor e tenacidade para ver a luz e as sombras, e os horrores que ambas podem causar ao homem aprendiz ou ao mestre experiente. Ousar questionar, pensar e rever vezes sem conta o método de evolução, fará sempre parte da base para que a humanidade recupere a sua Antiga Glória da Alma Mater. Alma Mãe que nos deu a Luz e nos ensina. E nos faz conhecer que são precisas várias ferramentas e utensílios − assim como a partilha e o debate de diferentes opiniões experimentadas − para que, se em momento algum bebemos da fonte da ilusão, tenhamos também a humildade de o reconhecer e, tão rápido como caímos na ilusão, sejamos também rápidos o suficiente para realizar o realinhamento por ela causado. Sendo isto a base mínima para que alguém, algum dia, ascenda a ser um ser de paz, com tudo o que o rodeia. Relembro: harmonia, experiência, diálogo, tentativa e erro .

A arte da Terra Primitiva, feita com as pedras, permite a cada ser humano saber que é constituído por um padrão de geometria sagrada que é único. Daí se dizer que duas pessoas podem ser parecidas mas não iguais, pois a sua geometria sagrada não é a mesma. Por não se conhecerem em profundidade é que a Arte da Terra Primitiva ganha Grande importância, pois ela permite a todos, sem excepção, a abertura do que cada um é, sem ilusões. A meditação ou o próprio transe causado pelo processo de andar dentro de uma espiral, com intenção e focus  no aqui e agora − que é o único momento que realmente existe − vai permitir a expansão e a vivência de experiências iguais aos primeiros métodos de Meditação usados pelo humano, com o suporte da coordenação da respiração.

Tendo sempre em consideração que a Cura é o único método que sigo, é o único método que aconselho aos mais afoitos ou embriagados dos sentidos por alguma substância. O Humano Primitivo era um Sobrevivente, fazia as coisas com semanas e meses de preparação e com uma interpretação de cura do seu ser e da sua própria comunidade, que era vista como uma família. Não era como hoje, em que o Eu e o Ego está em primeiro lugar, em vez do bem de todos.

Referiste também que não é qualquer um que lhes dá boa intenção e que sendo geometria sagrada são precisos alguns segredos. 

Nem todos são curadores, uns são seres de luz outros de trevas, todos desempenham o seu papel num universo em movimento caótico, com constantes explosões de vida e morte, não sendo nem bom nem mau. São, sim, forças necessárias à manutenção da harmonia do todo.

Quanto à  cura que está muito na moda, se não tens o dom, não te vai nascer. Logo, a única coisa que estás a fazer é viver uma ilusão. As características sentem-se dentro de cada um, podes estar em processo de aceitação ou de negação. As estruturas obedecem à tua própria natureza. Se fores luz, emites luz… se fores trevas, emites trevas.. não podes alterar quem és. Podes, sim, contribuir para um maior ganho de consciência de que o uso meditativo das pedras ou de um outro elemento da Terra, tem capacidades curativas, com a aplicação da geometria sagrada e do uso da espiral, ou de outra forma sagrada do universo. As hipóteses de criação e de propagação de energias positivas e de paz a todos os seres humanos sempre esteve ao nosso dispor de uma forma simples e acessível. Basta que a tua intervenção neste mundo seja pacífica e de união, para que o amanhã seja como o da imagem que uma criança cheia de Amor sente e visualiza.

.

.

Modes and Manners in the Anthropocene

interview with Fernando Ianomâni about the Primitive Art of the Earth

by Ilda Teresa de Castro

.

This slideshow requires JavaScript.

.

In recent years you have developed what you call Earth Art using stones. Can you share how your involvement with these work processes came about? How it all began, what inspires you and what techniques and methodologies you use?

The beginning

The Art of Primitive Earth comes from a deep wonderment, since my childhood, for the indigenous, aboriginal tribes. I started musically, with the discovery of the Djembe drum, a percussion that at the time was “trending” and that I kept playing even after it stopped being a “trend”. Along with the Djembe drum, I started playing the Didgeridoo which opened me the gates to Meditation. Little did I knew the importance that meditation would have in a long process of transformation and transition; as with the practice of conscious breath connected to the practice of the Didgeridoo, and the practice of meditation, I started developing a new conscience. With ups and downs, as meditation isn’t a linear process, contrary to what’s described in some books. According to the karma of each practitioner, there are fluctuations and variations between a sublime peace and a euphoria – as a bungee jump in the old, aboriginal way; as a dry rope that doesn’t stretch and gives us the feeling of imminent rupture, but never breaks; thus it’s the rope what maintains us, even unconsciously, connected to the lifeline during all the process of awakening of the inner conscience in the discovery of who we truly are.

The inspiration

Then, arose in me an inner need that I’ve come to observe, each time more present in the collective conscience. A soft and delicate call. To shout to the 4 winds that Great Mother Earth provides great moments of happiness, asking nothing in return – present in the baby born within their kin, in the landscape we contemplate in a place that never before we had the pleasure to behold, or in the places that every day we visit and make us feel home, even if those places aren’t the lands of our ancestors. It’s Mother Earth who receives us. To her, I owe the art and the imagination that permits me to transmit my works. It’s a scream. Of awakening, of a paradigm shift, alteration of perception.

Techniques

The drawings are inspired by shapes from Sacred Geometry present in Nature. The techniques recur to the use of circular moulds with different measures, used to create simple and repeated patterns, with a strong and perfect visual impact. Also the use of the body, e.g. Hands or distance between each leg, as an exact measure. Also eventually some additional accessories. All these techniques are directly connected to Sacred Geometry.

Method

When preparing for construction one must meditate, visualize many times the drawing, on the path towards the chosen place of construction, empty the mind, and soothe the heart and the spirit with soft songs or chants with inspiration in Ohm. Many times, arriving at the place where creation happens, all that was previously projected is pure and simply left behind and the idea of creation changes, giving way to a new idea. Thus, freeing the imagination and the creative capacity to attain Maximum Freedom in the moment of creation.

You´ve referred the therapeutic and meditative qualities, and the deep, powerful connection the drawings have when done with good intention. Also how these processes seek for the most primitive and arcane in the human being. Can you develop a bit more in these aspects?

The Art of Primitive Earth, as its name indicates, is the base that has permitted to develop all the methods of Meditation, focus, concentration, breath, inspiration, visualization, creativity and imagination and connection with the reality of Nature as well. That connection must be exercised. Who never had the inner work of diving head first within their self, that head dive from which the majority runs away from, with futile excuses or subterfuges, until the illusions that populate the minds are gone, well they’ve got to exercise, work on that connection. The common, ‘civilised’ people avoid so, thus never getting to know defects and qualities, causing lack of harmony and the consequent lack of balance mirrored in the life model followed by the Western population – I also point here the abuses of various substances in the most variegated categories, from poisonous sugar to the new designer drugs en vogue these days, or the well-established alcohol, as an accessible drug and vicious behaviour widely permitted by society. It’s in these adulterated, deviated fields that the Art of Primitive Earth extends its therapeutic chant and calls to all to look back, to the very beginning of everything. Millions of years ago, these ‘urban escapes’ didn’t exist, these facilitators which sicken us and, century after century, cause the loss of the Arcane Conscience of our Ancestors. Only from East to West any will ask oneself ‘how would it be back in the day of the Originals of the Earth?’ – How did they meditate, how they achieved states of trance? How did they had such advanced cultures at times which, supposedly, all was archaic, backwards, and little or no knowledge as we know it today, existed? How did they work the wonders we can verify in our century with a simple Google search?

Back then, with the practice of trial and error as basic science, the fear of experimentation was lost. Thought was free and had available the innocence and initiative to possess nothing, with the supreme will to live as if each day was the most important in one’s life. There were vigour and tenacity to see the light and the shadows, and the horrors that both can cause to the initiate apprentice or the experient master. To dare to question, think and review countless times the method of evolution, will always be a part of the base for humanity to recover the former glory of its Alma Mater. Mother Soul who gave us the Light and teaches us. And makes us know many utensils and tools are needed – just as the sharing and debate of different, experienced opinions – so that, if at any moment we draw from the source of illusion, may we also have the humility to recognise so, and, as fast as we’ve fallen into illusion, may we also pace fast enough to attain the realignment caused by it. This being the minimum base so that someone, any day, may ascend into becoming a being of peace, with all that surrounds them. I re-remember to you: harmony, experience, dialogue, trial and error.

The Art of Primitive Earth, built with stones, allows each human being to know they’re made out of a unique pattern of sacred geometry. Thus we say two people may look and be alike but not identical, as their sacred geometry isn’t the same. Because they don’t know each other deeply, then the Art of Primitive Earth gains great relevance, as it allows all, without exception, an open gate towards who one really is, free from illusions. Meditation or its consequent trance caused through the process of walking within a spiral, with intention and focus on the ‘here and now’ – which is the only moment which truly exists – shall allow the expansion and acknowledgement of experiences equiparable to the first methods of Meditation done by the human, supported by the coordination of breath.

Always taking into consideration the Cure / Healing is the only method I follow, the only method I advise to the bolder or with senses inhebriated by any substance. The Primitive Human was a Survivor, did every action with weeks and months of preparation and with an interpretation of the cure/healing of their own being and heir own community, seen as a family of sorts. It was not like the day off today, when the I and the Ego occupies the first place, instead of the good welfare of all.

You’ve referred as well it’s not just any person who practises these actions with good intention and these works while containing sacred geometry also need a few secrets involved.

Not all are healers; some are beings of light and others beings of shadows, all fulfil their role in a universe in chaotic movement, with constant explosions of life and death, all of that being a neither/neither world between good and evil. In fact, they are forces required for the maintenance of the harmony of all.

As for the cure/healing so much in vogue, if one doesn’t hold the gift within oneself, it won’t surge at will. Thus, the only thing one’s doing is living an illusion. The characteristics are felt within each one; one can be in the process of acceptance or negation. The structures obey one’s own nature. If one is light, one emits light…if one is shadow, one emits shadow…one can’t alter who one is.

One can, indeed, seek to contribute to a greater conscience gain that the meditative use of the stones or any other element of the Earth, has healing / curative qualities while applying sacred geometry and the use of the spiral, or any other sacred shape from the Universe. The chances of creation and propagation of peaceful and positive energies to all human beings have always been at our hand in a simple and accessible way. It’s enough already your intervention in this world is peaceful and towards union, so the day of tomorrow may be as the image a child full of Love feels and visualizes.

translation by Ana Cordeiro Reis

.

.

português / english / français .

sobre a Arte Planetária e o Tecnoromantismo

. sbimage1

Conversa com Stéphan Barron, a propósito de Arte e Ecologia, por Ilda Teresa de Castro

Edgar Morin escreveu: «A Arte Planetária toma a Terra como matéria-prima para a expressão emocional e introspectiva, usando as tecnologias de telecomunicação para pôr em destaque a distância e o espaço geográfico. Esta forma de arte explora as emoções e a poesia da distância e reflecte sobre a globalização e suas consequências humanas e ecológicas; a aventura de Stéphan Barron desperta-nos para uma consciência mais ampla do nosso planeta».

Começou a trabalhar sobre a Arte Planetária em meados dos anos 80. Passados todos esses anos, o que mudou nas suas preocupações sobre as consequências ecológicas da globalização? Como é que isso se reflecte no seu trabalho?

Na década de 80 estávamos cheios de optimismo e víamos o mundo tecnológico emergindo como uma promessa de mais fraternidade, abolição de fronteiras, autonomia dos artistas, descentralização e resistência. Foi para nós um universo virgem, um campo de experimentação e inovação artística sem limites. Parecia prometer um destino rico para a humanidade, mais uma solução do que um problema. Mas depois dos anos 80 deixou de ser possível à Europa ou aos países desenvolvidos verem a globalização como uma promessa de progresso infinito. Cientistas e ambientalistas têm vindo a avisar-nos acerca do desaparecimento das florestas primárias, da deterioração do ambiente (poluição, ozono), das alterações climáticas e acerca do radical desaparecimento da biodiversidade .

Os meus primeiros trabalhos, em 1986/1987, como Thaon / New York, Orient- Express, … chamavam a atenção para uma consciência global, para o uso da tecnologia de telecomunicações com vista à remoção dos movimentos físicos. Essas obras expressam uma poesia da Terra, donde, uma ideia de uma arte planetária. Os trabalhos que se seguiram: As plantas do meu jardim 1991, O céu azul 1994, Ozono 1996, Compost em 2000, adicionaram a estas preocupações ambientais globais sublimadas, um nível de alerta mais forte e crítico, uma expressão da crise ecológica cada vez mais evidente.

Com o decurso do tempo, tem constatado um aumento de interesse na “Arte&Ecologia”, tanto por parte dos autores, como do público?

O público e os artistas têm vindo a voltar-se cada vez mais para estas questões ambientais, apesar das poderosas instituições, politicamente controladas, das galerias e dos coleccionadores motivados pelo dinheiro e por questões de poderio económico. Os poderes instituídos têm vindo a oferecer resistência a uma visão ecológica crítica; mas o meio da arte pode, eventualmente, integrar esta dimensão se puder ganhar dinheiro com ela. Se o “novo” e “ o que está na moda” passar pela ecologia, especialmente se não for muito crítico, então rapidamente são “repintadas de verde” todas as obras possíveis. A produção artística é tolerada – como a Land Art enquanto arte na Natureza – se não colocar radicalmente em questão o modelo económico presente e o dogma de um crescimento devastador. A Land Art foi, inicialmente, essencialmente uma visão demiúrgica americana de dominação e de reconfiguração da Natureza.

De que maneira é que o trabalho artístico relacionado com concepções ecológicas tem vindo a influenciar crescentemente o público para uma eco–consciência? Acha que as pessoas têm vindo a ganhar uma maior consciência dos problemas ecológicos, quer globais, quer locais?

As obras de arte têm uma influência profunda. Elas permitem ancorar no fundo do imaginário as questões ecológicas.

Certamente, as informações científicas sobre a crise ambiental, os escândalos alimentares, têm vindo a resultar numa consciência cada vez maior, mas ainda muito há a fazer para mudar realmente comportamentos e hábitos. Esta é uma verdadeira revolução interior que exige as mais das vezes lutar contra a nossa educação, a nossa família, os condicionalismos, a pressão social. As questões globais deparam-se com o egoísmo, a cegueira e a ignorância. Parecem questões abstractas e distantes. Para iniciar uma abordagem ecológica, é necessário, por exemplo, aprender a ultrapassar o suposto conforto de andar sozinho de automóvel e passar a sentir prazer em andar de bicicleta no meio das pessoas, na cidade. Não diz muito às pessoas lutar contra o aquecimento dos pólos; mas se se tratar da necessidade de ser saudável, da consciência do corpo, isso sim, já faz com que as pessoas se interessem. Se descobrirem o prazer de mover o corpo numa bicicleta, em vez de num ginásio, de estar em contacto com a cidade, com os outros, isso já constitui realmente uma boa motivação.

As mudanças climáticas começam a ser perceptiveis para a agricultura europeia. Brevemente, poderemos ter que enfrentar emergências alimentares na Europa e este problema deixará de estar confinado a África. A relação e interacção entre o nosso interior, o nosso corpo e o que nos rodeia, o distante, o outro, o cosmos, não é apenas uma abstracção científica ou mística, mas uma realidade tangível. Quando tudo isso fizer sentido, a ecologia tornar-se-á algo positivo e construtivo para cada um de nós.

Os artistas tornaram-se mais eco-activistas?

Nos anos 70 e 80, a arte ecológica, ou melhor, a arte na Natureza, foi principalmente a Land Art, que muitas vezes teve uma atitude dominadora para com a Natureza e nem sempre harmoniosa. Queria colocar como marca do artista o dominío do homem sobre a Natureza. As instituições expunham uma dimensão pastoral e não crítica de uma arte na Natureza. Essa arte não era mais do que uma extensão da escultura tradicional e um prolongamento do gesto de Duchamp, onde a Natureza era mais um objecto a “apresentar” no campo da arte. Apenas com a viragem do século é que artistas críticos abordando temáticas ecológicas, começaram a exprimir uma arte movida pela urgência ecológica.

Houve um processo de “Greenwashing” por parte das instituições, empresas e coleccionadores, que cinicamente procuraram demonstrar interesse por esta forma de arte, mostrando artistas bem estabelecidos no mercado da arte ou com um discurso pouco crítico ou até mesmo em contradição com a abordagem ecológica. Depois de afirmarem que os artistas ecologistas eram hippies reaccionários e antiquados, de terem zombado da ecologia e censurado esses artistas, o meio da arte, os próprios artistas, “repintaram de verde” ou como ecológicas, as obras de arte do mercado. Mas durante quanto tempo mais, todas essas atitudes de resistência de uma velha ordem pré-estabelecida serão capazes de resistir? Assistimos a uma transição ecológica na arte.

Outros artistas envolvidos na Arte Ecológica são também activistas nas suas vidas diárias. Em 1997 realizámos a obra de intervenção urbana eco-activista O poder das flores, que consistiu numa série de acções de plantação de sementes selvagens junto de casas de renda moderada e no desenvolvimento de um plano alternativo de “zonas verdes” que limitava as zonas de parqueamento dos carros para as substituir por zonas pedonais arborizadas, o que constituiu também uma contestação da ordem política que não aceitava a expressão dos mais pobres.

Eles são o que Restany chamou o outro lado da arte, o de um compromisso ético, mais do que da mera produção de objectos. Como Pierre Restany disse, trata-se de uma abordagem existencial, e esses artistas não podem ganhar o seu sustento sem esse compromisso radical na sua arte. Arte e vida são inseparáveis para eles; não se trata de ganhar dinheiro, mas de uma necessidade interna e ética.

O Tecnoromantismo enquanto romantismo tecno-ecológico (essência da Arte Planetária) estabelece uma relação entre a tecnologia e a ecologia e um paralelo com a estética Romântica. Parece que este conceito de movimento filosófico, artístico e social que propõe uma mutação antropológica na qual o impacto da tecnologia nos seres humanos e na Natureza seria contrabalançado pelo desenvolvimento de uma nova consciência e uma outra interpretação da auto-consciência, se torna cada vez mais pertinente à medida que o tempo passa.

No seu livro, publicado em 2003, sugere uma lista de práticas, como uma praxis de vida, para se alcançar esse equilíbrio entre consciência e espiritualidade versus tecnologia e progresso na sua forma mais materialista.

Após dez anos, estamos a caminhar na direcção dessa mutação antropológica?

Vemo-lo ao nosso redor todos os dias. A mudança está em marcha. Tudo o que foi tido por uma fantasia de marginais iluminados tornou-se uma realidade, por vezes encorajadora (a conversão ecológica cada vez mais evidente, o abandono da energia nuclear na Alemanha), por vezes trágica (o acidente de Fukushima numa nação de topo na tecnologia, a insistência no nuclear em França). A luta continua.

Gregory Bateson, Félix Guattari, Maturana e Varela, Pierre Restany, Bernard Stiegler, Isabelle Stengers, são alguns entre os muitos autores que procuraram uma melhor maneira de ser humano.

O que nos falta para alcançarmos uma humanidade mais humana?

O amor, a compaixão, tudo o que é ensinado pelas filosofias e religiões, são os verdadeiros impulsionadores da mudança. Tudo flui naturalmente de lá… A obra de arte Monochromes de 2012, é um trabalho que incorpora a dimensão meditativa e a capacidade de cada um ficar imerso nas suas imagens interiores. Esta obra imerge os espectadores na percepção pura de cor sem o “interface de uma obra materializada”. Todos têm uma experiência profunda da cor pura, da cor interior.

Monochromes consiste em proporcionar experiências de visualização mental da cor pura num estado de profundo relaxamento meditativo, utilizando as técnicas da soprologia. O objectivo deste projecto é dar aos espectadores o acesso a obras puramente mentais e imateriais. Esses espectadores tornam-se actores, criadores de suas próprias obras de arte interior. Esta obra de meditação convida-os a experimentar a arte de maneira intensa e profunda. Escrevi textos de exercícios de visualização, exercícios mentais para Monochromes. Os exercícios são realizados no estado soprológico (estado induzido pelo relaxamento, entre o estado de sono e o de vigília).

Esta obra, que parece muito diferente das obras planetárias ou das obras participativas eco-activistas, é a expressão de uma ecologia mais profunda, de uma visão de arte puramente imaginária e mental. Esta obra pretende expressar de forma directa a dimensão espiritual da arte na origem de uma ecologia do espírito.

Monochromes conduz os espectadores numa percepção pura da cor sem a presença da obra de arte física. A pessoa experimenta a profundidade de cor pura – a cor por dentro.

entrevista por Ilda Teresa de Castro

tradução dina duque

nota: uma versão mais desenvolvida desta entrevista será publicada no próximo número da revista artciencia.com

. .

on Planetary Art and Technoromanticism

. sbimage3 .

Interview with Stéphan Barron concerning Arte & Ecology, by Ilda Teresa de Castro

Edgard Morin wrote: «Earth Art takes the Earth as its raw material for emotional and introspective expression, using telecommunication technologies to highlight distance and geographical space. This art form explores the emotions and poetry of distance, and reflects on globalisation, and its human and ecological consequences; Stéphan Barron’s adventure awakens and alerts us to a broader conscience of our planet».

You start working on Planetary Art in mid 80 ́s. After all these years, what have changed in your concerns about the ecological consequences of globalization? How does it reflects in your work?

In the 80s we were full of optimism. We look at the emerging technological world as a promise of more brotherhood, frontiers’ abolition, artistic autonomy, decentralization and resistance. It was for us a virgin universe, an experimentation field of artistic innovation without limits. A rich destiny was promised for Humanity, more a solution than a problem. But since the 80’s it’s no longer possible for Europe or the developed nations look at globalization as the promise of infinite progress. Scientists and environmentalists warn about the disappearance of primary forests, atmosphere’s deterioration (pollution, ozone), climate change and the radical loss of biodiversity.

My first works in 1986/1987 as Thaon/New York, Orient-Express, … called for a global consciousness, to use telecommunications technology to remove physical movements. With these works I wanted to express a poetry of Earth therefore, the idea of a planetary Art. The following works added to these sublimated global environmental concerns a louder and critical alert level, an expression of the ecological crisis more and more prevalent: Plants from my garden 1991, The blue sky 1994, Ozone 1996, Compost in 2000.

In the course of time did you see an increment of interest on Art&Ecology both from the authors or/and the public?

The public and artists have turned increasingly to these environmental issues, despite the politically controlled institutions, the galleries and the collectors motivated by money and economic power. The power offers resistance to a critical ecological vision, but the artistic medium eventually integrates this dimension if it can make money with art. If ecology turns to be new and fashion, especially if not too critical, then quickly all possible works are repainted of green. The artistic production is tolerated, in Nature Art as Land Art, if it doesn’t question radically the economic model and the dogma of a devastating growth. Land Art was initially essentially a demiurgic American vision of domination and of reconfiguration of the nature.

In what manner the artistic work related to ecological conceptions had influenced the public growing of an eco-consciousness? Do people have more consciousness of the local and global ecological problems?

Works of art have a profound influence. They allow to anchor in the bottom of the imaginary the ecological issues.

Certainly, scientific information on the environmental crisis and food scandals for instance, have resulted in greater awareness, but much remains to be done to really change behaviors and habits. This is a real inner revolution which often requires fighting against one’s upbringing, family, social environment, social pressure. Global issues have to fight against the selfishness, blindness and ignorance. These issues seem abstract and distant. To start an ecological approach one must relearn. Instead of going alone in one’s car, one must feel comfortable riding a bike among people around the town. If it is to fight against the polar warming, people are not very concerned. Body awareness and the need to be healthy really helps much more. If one learns the pleasure of moving his body on a bike and not in a gym, to be in contact with the city, the others, is a good motivation.

Climate change begins to be noticeable to foster agriculture in Europe. We may soon be facing food emergencies in Europe, and no longer just in Africa. The relationship, the interaction between our inner selves, our bodies, what surrounds us, to the other, the distant, the cosmos is not only a scientific or mystical abstraction, but a tangible reality. When all this turn out to make sense, ecology becomes a positive and constructive act for each other.

Did artists becomes more eco-activist ?

In the 70s and 80s, ecological art or rather art about nature was mostly land art, which often reflected not an harmonious attitude of man towards nature but a very domineering one. The artist’s imprint was expressed as a domination of man over nature. Institutions were exposing a pastoral dimension and not a critical one. This art was an extension of traditional sculpture and an extension of Duchamp. The nature was presented in the field of art merely as an object amongst others. It was just in the turn of the century that the artists have began to express themselves about the environmental themes and that we begin to express environmental emergencies in the field of art.

There is a process of Greenwashing in institutions, companies and collectors who want to demonstrate a cynical interest in this art form, showing well-established artists in the art market or little critical artists, sometimes even in contradiction with the ecological approach. After stating that environmentalists artists were reactionary and outmoded hippies, after having mocked the ecology and having censored these artists, the artists themselves have “repainted in green”. So, for how long all these attitudes of resistance against the ecological evidence? There is an ecological transition of art.

Other artists involved are also activists in their daily lives. In 1997 we completed the implementation of eco-activist urban intervention Flower Power. It consists of planting wild seeds near houses of moderate rent, in order to replace parking by pedestrian green zones. It was also a challenge to a political order that didn’t want to accept the expression of the poor.

They are what Restany called the other side of the art, that of an ethical commitment, for them, art is more than the mere production of objects. As Pierre Restany said, it is an existential approach, and these artists cannot do their art without this radical commitment. Art and life are inseparable for them. This is not a way to make money, but an inner necessity and ethics.

Technoromanticism as a techno-ecological romanticism (essence of Earth Art) establishes a relation between technology and ecology and a parallel with the Romantic aesthetic. It seems that this concept of a philosophical, artistic and social movement which proposes an anthropological mutation in which the im- pact of technology on human beings and Nature would be counterbalanced by the development of a new consciousness, and a modern interpretation of self-awareness becomes more and more accurate as time goes by. In your book, published in 2003, you place a list of practices, like a praxis of life, to achieve this balance between consciousness and spirituality versus technology and progress in it most materialistic form.

After ten years, are we growing in the direction of this anthropological mutation?

We see it around us every day. Times are changing. What was taken as a marginal fantasy became reality, sometimes encouraging (ecological conversion increasingly obvious, abandonment of nuclear power in Germany), sometimes tragic (the Fukushima accident in a nation at the top technology, and the pursuit of nuclear power in France). The struggle continues.

Gregory Bateson, Félix Guattari, Maturana e Varela, Pierre Restany, Bernard Stiegler, Isabelle Stengers, are some of an among of authors that look for a better way of being human. What do we still miss to accomplish a more human humanity?

Love, compassion, all that is taught by the philosophies and religions that are the real drivers of change. Everything flows naturally from there… The art work Monochrome 2012, is a work that incorporates meditative dimension and the ability of each to get in immersion with inner images. This work immerses viewers in the pure perception of color without the interface of a hardware implementation. Everyone had a profound experience of pure color, interior color.

Monochromes consists on providing experiences of mental visualization of pure color in a state of deep meditative relaxation, using the techniques of relaxation therapy. The purpose of this project is to give viewers access to purely mental and intangible works. These spectators become actors, creators of their own works of interior art. This work of meditation invites you to experience the art in an intense and profound way. I wrote visualization exercises, mental exercises to Monochrome. Exercises are performed in sophronique state (induced relaxation between waking and sleeping state). This work seems very different from the planetary works or eco–activists. However, they are the expression of a deep ecology, a vision of the mental and purely imaginary art. This work wants to express directly the spiritual dimension of art at the origin of an ecology of mind.

(MONOCHROMES draw the viewers into a pure perception of colour without the presence of a physical art work. One experiences the depth of pure colour – the colour within).

translation dina duque

note: a more developed version of this interview will be published in the next issue of the artciencia.com online magazine

 

sur L´Art Planétaire et le Technoromantisme

. sbimage2 .

Entretien avec Stéphan Barron a propos de L´Art & Ecologie par Ilda Teresa de Castro .

Edgard Morin à écrit: «L’Art Planetaire prend la terre comme matière première pour l’expression émotionnelle et introspective, en utilisant les technologies de télécommunication pour mettre en évidence la distance et l’espace géographique. Cette forme d’art explore les émotions et la poésie de la distance et est une réflexion sur la mondialisation et ses conséquences humaines et écologiques; L’aventure de Stéphan Barron nous réveille et nous alerte sur une conscience plus large de notre planète ».

Vous avez commencé à travailler sur l’Art Planetaire au milieu des années 80. Après toutes ces années, ce qui a changé dans vos préoccupations sur les conséquences écologiques de la mondialisation? Comment ça se reflète dans votre travail?

Dans les années 80 nous étions plein d’optimisme et nous voyons l’univers technologique naissant comme une promesse de plus de fraternité, d’abolition des frontières, d’autonomie des artistes, de décentralisation, de résistance. Il était pour nous un univers vierge, un terrain d’expérimentation et d’innovation artistique sans limite. Il semblait promettre un destin riche pour l’humanité, une solution plus qu’un problème. Mais depuis les années 80 il n’est plus possible pour les européens ou les nations développées de voir la globalisation comme la promesse d’un progrès infini. Les scientifiques et les écologistes nous mettent en garde sur la disparition des forêts primaires, sur la détérioration de l’atmosphère (pollution, ozone), sur le changement climatique et la chute radicale de la biodiversité.

Mes premiers travaux en 1986/ 1987 comme Thaon/New York, Orient-Express, … appelaient à une conscience globale, à une utilisation des technologies de télécommunications pour supprimer les déplacements physiques. Ces oeuvres voulaient exprimer une poésie de la Terre d’où l’idée d’un Art planétaire. Les travaux qui ont suivi ont ajouté à ces préoccupations écologiques globales sublimées, un niveau d’alerte critique plus fort, une expression de la crise écologique de plus en plus prégnante : Les plantes de mon jardin 1991, Le bleu du ciel 1994, Ozone 1996, Compost en 2000.

Dans le cours du temps avez-vous témoigné une augmentation de l’intérêt sur l’art et écologie par les auteurs et/ou du public?

Le public et les artistes se sont tournés de plus en plus vers ces enjeux écologiques, malgré les résistances très fortes et très puissantes des institutions contrôlées politiquement, des galeries et des collectionneurs motivés par l’argent et issus du pouvoir économique. Les pouvoirs résistent à une vision écologique critique, mais le milieu de l’art fini par intégrer cette dimension à condition de pouvoir gagner de l’argent avec des oeuvres d’art. Si le nouveau et la mode passent par l’écologie, surtout si elle n’est pas trop critique, alors vite ils repeignent en vert toutes les oeuvres possibles. Ils ont toléré d’abord une production artistique plus consensuelle d’un art dans la nature comme le Land Art qui ne remet pas radicalement question le modèle économique et le dogme d’une croissance dévastatrice. Le Land Art était au début essentiellement une vision américaine démiurgique de domination et de reconfiguration de la nature.

De quelle façon le travail artistique liée à des conceptions écologiques a influencé la culture publique d’une conscience écologique? Les gens ont plus conscience des problèmes écologiques locaux et mondiaux? 

Les œuvres d’art ont une influence profonde elles permettent d’ancrer au fond de l’imaginaire les enjeux écologiques.

Les informations scientifiques sur la crise écologique, les scandales alimentaires ont abouti à une meilleure conscience mais il reste beaucoup à faire pour changer vraiment les comportements et les habitudes. C’est une vraie révolution intérieure qui nécessite souvent de lutter contre son éducation, sa famille, ses conditionnements, la pression sociale. Les enjeux globaux se heurtent à l’égoïsme, à l’aveuglement et l’ignorance. Ces enjeux semblent abstraits et lointains. Pour entamer une démarche écologique, il faut par exemple réapprendre à passer du confort paresseux d’être tout seul dans sa voiture à celui de se déplacer sur un vélo au milieu des gens dans la ville. Si c’est pour lutter contre le réchauffement des pôles, les gens ne sont pas très concernés. La conscience du corps et la nécessité d’être en bonne santé aident beaucoup plus. Si on réapprend le plaisir de bouger son corps sur un vélo et pas dans une salle de fitness, d’être au contact de la ville, des autres c’est une bonne motivation. 
Le changement climatique commence à être perceptible pour l’agriculture nourricière en Europe, bientôt nous risquons d’être confrontés à des urgences alimentaires en Europe, ça ne concernera plus seulement l’Afrique. La relation, l’interaction entre notre intériorité, notre corps, ce qui nous environne, jusqu’au lointain, l’autre, le cosmos n’est plus seulement une abstraction scientifique ou mystique, mais une réalité tangible. Quand tout ceci prend du sens, l’écologie devient un acte positif et constructif pour chacun.

Est-ce que les artistes deviennent plus éco-activistes?


Dans les années 70 et 80, l’art écologique ou plutôt, l’art dans la nature, était essentiellement le Land Art 
qui avait souvent une attitude très dominatrice sur la nature et pas toujours harmonieuse. Il voulait inscrire l’empreinte de l’artiste comme domination de l’homme sur la nature. Les institutions n’exposaient qu’une dimension bucolique et non critique d’un art dans la nature. Cet art n’était qu’un prolongement de la sculpture traditionnelle et un prolongement du geste de Duchamp, où la nature était un objet de plus à «présenter» dans le domaine de l’art. Ce n’est qu’au tournant du siècle que les artistes critiques abordant les thématiques écologiques on commencer à exprimer un art déplaçant les urgences écologiques dans le domaine de l’art. 
Il y a une démarche de Greenwashing chez les institutions, les entreprises et les collectionneurs qui ont voulu avec cynisme afficher un intérêt pour cette forme d’Art en montrant des artistes bien implantés dans le marché de l’art ou ayant des discours peu critiques, voire en contresens avec la démarche écologique. Après avoir affirmé que les artistes écologistes étaient des hippies réactionnaires et démodés, avoir raillé l’écologie et avoir censuré ces artistes, le milieu de l’art, les artistes eux-mêmes repeignent en vert ou prétendent écologiques des oeuvres d’art du marché. Mais toutes ces attitudes de résistance d’un ordre ancien vont-elles pouvoir tenir longtemps face à l’évidence écologique. Il y a une transition écologique de l’art.

Les artistes peuvent rendre ceci encore plus clair, évident, intégré dans notre imaginaire et donc nos actes.

D’autres artistes engagés sont aussi des activistes dans leur vie quotidienne. En 1997 nous avons réalisé l’oeuvre eco-activiste d’intervention urbaine Le pouvoir des fleurs. Elle a constitué en une série d’actions de plantation de graines sauvages au pied des Habitations à Loyer Modéré, en l’élaboration d’un plan de rue verte alternatif limitant la place de la voiture pour la remplacer par des zones piétonnes arborées, et la contestation d’un ordre politique qui n’acceptait pas l’expression des habitants pauvres.

Ils sont dans ce que Restany appelait l’autre face de l’art, celle d’un engagement éthique, plus que dans la production d’objets. Comme le disait Pierre Restany, il s’agit d’une démarche existentielle, et ces artistes ne peuvent pas faire l’économie de cette engagement radical dans leur art. L’art et la vie sont pour eux indissociables, ce n’est pas un moyen de faire de l’argent mais une nécessité intérieure et éthique.

Technoromantisme comme un romantisme techno-écologique (essence de l’Art Planetaire) établit une relation entre la technologie et l’écologie et un parallèle avec l’esthétique romantique. Il semble que ce concept d’un mouvement philosophique, artistique et social qui propose une mutation anthropologique dans laquelle l’impact de la technologie sur les êtres humains et la nature serait compensée par le développement d’une nouvelle conscience et pour une interprétation moderne de la conscience de soi, devient de plus en plus précis. Dans votre livre, publié en 2003, vous placez une liste de pratiques, comme une praxis de la vie, pour atteindre cet équilibre entre la conscience et la spiritualité par rapport à la technologie et le progrès, dans sa forme plus matérialiste.

Après dix ans, nous sommes de plus en plus dans le sens de cette mutation anthropologique?

Nous le voyons au quotidien autour de nous, la mutation est en marche. Tout ce qui était pris pour une fantaisie d’illuminés marginaux est devenu une réalité parfois encourageante (la conversion écologique de plus en plus évidente, l’abandon du nucléaire en Allemagne), parfois tragique (l’accident de Fukushima dans une nation au sommet de la technologie et la poursuite du nucléaire en France). La lutte continue.

Gregory Bateson, Félix Guattari, Maturana e Varela, Pierre Restany, Bernard Stiegler, Isabelle Stengers, sont quelques-uns parmi d’autres auteurs qui cherchent une meilleure façon de l’être humain. Qu’est-ce que nous manquons encore pour accomplir une humanité plus humaine

L’amour, la compassion, tout ce qui est enseigné par les philosophies et les religions, ce sont les véritables moteurs du changement. Tout découle naturellement de là… L’oeuvre d’art Monochromes de 2012, est une oeuvre qui intègre la dimension méditative et la capacité de chacun d’entrer en immersion avec ses images intérieures. Cette oeuvre immerge les spectateurs dans la perception pure de la couleur sans l’interface d’une œuvre matérielle. Chacun fait l’expérience profonde de la couleur pure, la couleur intérieure.

Monochromes consiste à proposer des expériences de visualisation mentale de la couleur pure en état de profonde détente méditative, en utilisant les techniques de la sophrologie. Le but de ce projet est de donner aux spectateurs accès à des œuvres purement mentales et immatérielles.
Ces spectateurs deviennent acteurs, créateurs de leurs propres œuvres d’art intérieures. Cette oeuvre de la méditation invite à vivre l’art de façon intense et profonde. J’ai écris des textes d’exercices de visualisation, exercices mentaux pour Monochromes. Les exercices sont réalisés en état sophronique (état induit par la relaxation entre veille et sommeil).

Cette oeuvre qui semble très différente des oeuvres planétaire ou des oeuvres participatives eco-activistes est pourtant l’expression d’une écologie plus profonde, d’une vision de l’art purement imaginaire et mental. Cette oeuvre veut exprimer de façon directe la dimension spirituelle de l’art à l’origine d’une écologie de l’esprit.

(MONOCHROMES draw the viewers into a pure perception of colour without the presence of a physical art work. One experiences the depth of pure colour – the colour within).

traduction dina duque

 

note: a more developed version of this interview will be published in the next issue of the artciencia.com online magazine

.

 

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s