mudanças e movimentos / change and movements

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português / english

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assim tão pouco, tão menos, Isabel Barros

(10 Anos . 10 Years . 2024)

Laurinda Seabra – Dar Voz ao Povo / Laurinda Seabra – Giving Voice To The People, Manuela Gonzaga

(reportagem / report – no. X . 2018-2018)

Do Verde ao Cinzento: A Minha experiência com o Meu Ambiente / From Green to Grey: My experience with My Environment, Quadros Karen Aditi

(crónica / report – no. IX . 2017-2018)

Arturo, o “animal mais triste do mundo” – a morte de Arturo reacende o debate sobre os jardins zoológicos / The death of Arturo, the “world’s saddest animal” reignites the debate over zoos, Rafael Speck de Souza

(artigo / article – no. VIII . 2016-2017)

A Normalização do Impensável (Centro Oxford para a Ética Animal) / Normalising the Unthinkable

(notícia / new – no. V.  2015)

Direitos dos Animais e do Ambiente – os animais não-humanos e o ambiente, devem (ou podem) ter direitos? / Animal and Environmental Rights – should (or can they) nonhuman animals and the environment have rights?, Pedro Jardim Garcia

(artigo / article – no. IV . 2014)

A Casa dos Animais de Lisboa e a Lei – conversa com Inês de Sousa Real provedora da Casa dos Animais de Lisboa, A. Mayor e Ilda Teresa de Castro

(entrevista / interview – no. III . 2014)

Declaração de Cambridge sobre a Consciência / The Cambridge Declaration on Consciousness

(notícia / new – no.I . 2014)

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assim tão pouco, tão menos

por Isabel Barros

imagem de Pedro Figueiredo

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Durante a última década, de forma afirmativa e bela, a Animalia Vegetalia Mineralia fez um trabalho intenso e precioso. Ao longo destes 10 anos, as pessoas que nela participaram, aportaram reflexões importantes e muito pertinentes, por isso, começo o meu texto dando os Parabéns e agradecendo integrar esta edição.

Interessa-me pensar como a forma de viver e estar, pode contribuir para uma harmonia maior, com tudo o que nos rodeia. Há elementos que me acompanham intensamente, e que percebo terem impacto nas peças que vou construindo. Falo, do mar, da terra, dos animais, da luz solar e tudo o que não me é indiferente e me faz sentir plenamente viva e em harmonia. Na minha última peça a solo, parti da ligação com o mar, desenhando movimento, como uma espécie de linhas de embalo para o meu corpo.

Interessa-me essa relação simples com tudo o que também revela a consciência ecológica, usando o mínimo para produzir máxima potência poética. Interessa-me habitar lugares “naturais”, que não precisam de intervenção cenográfica artificial, daí usar muitas vezes o espaço público.

Com palavras, música e movimento, crio “objetos”, alguns dos quais são uma espécie de manifestos do corpo, criados em cumplicidade com outros artistas.

Assim tão pouco, tão menos, tem sido a minha caminhada, como se o desejo de ser mais leve fosse algo cada vez mais presente. A partir do corpo, da minha consciência ecológica, tento escutar o mundo. Sinto que o ouço.

Nos últimos dez anos, fiz escolhas mais essenciais, algumas muito ligadas ao interesse pelas questões sociais. Dessa forma, acredito ter e estar a construir um caminho mais equilibrado e em harmonia com a minha forma de estar no mundo, na Terra, neste lugar.

E como está este nosso lugar?!? Como estamos nós, neste lugar? Como o vamos deixar? Como o vamos inventar?

A única palavra que me ocorre sublinhar é “menos”.

Acredito ainda, que o nosso planeta precisa de menos consumo, menos lixo, menos carros, menos agitação, menos stress, menos tudo o que esconde o canto dos pássaros, o som do vento, ou até o som dos passos arrastados dos velhos.

Se tivesse de fazer uma conferência, faria sobre a necessidade de nos libertarmos do excesso, que prejudica, destrói e nada contribui para alimentar os que mais precisam.

O consumo é semelhante à guerra, destrói e fica caro.

Menos! Menos! Menos!

É esta a mensagem que desejo deixar para celebrar a Animalia Vegetalia e Mineralia e é também a mensagem que deixo para o futuro.

Que bom ouvir os passarinhos

sentir o vento

e aqui ficar

assim,

tão pouco

tão menos

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*Isabel Barros, artista, cofundadora do balleteatro (1983), diretora artística do Teatro de Marionetas do Porto desde 2010 e do Museu das Marionetas do Porto inaugurado em Fevereiro de 2013. Tem um vasto percurso de criação artística, no qual destaca o cruzamento de linguagens, nomeadamente dança, teatro e marionetas. Cedo se interessou por criar projetos privilegiando formatos transversais e alternativos, com outros artistas e com a comunidade. Em 2014 criou o Festival Corpo + Cidade, dedicado à performance em espaço público, o qual desde 2016 passou a integrar a programação do Festival DDD. Em 2018 recebeu a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro. O Porto é a sua cidade de origem e de eleição, na qual desenvolve o seu trabalho com sentido de urgência e forte dimensão social.

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Laurinda Seabra – Dar Voz ao Povo

A Respiração da ASMAA

por Manuela Gonzaga*

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Quando se fala em Portugal na luta contra os gigantes da indústria petrolífera que querem perfurar as nossas terras e contra os interesses obscuros que os suportam, Laurinda Seabra é o primeiro nome que nos vem à cabeça. Foi ela quem iniciou, há mais de sete anos, uma investigação sobre os contratos concedidos pelo governo português – contratos esses que, no âmbito da exploração de petróleo, vão do mais tenebroso ao mais surreal – acordando para os seus riscos, uma população completamente alheada deste processo.

Foram anos de campanhas porta a porta e pelas ruas, em defesa de uma população completamente alienada de todo este processo, mas, esmagadoramente sensível à preservação de uma Natureza magnífica ameaçada de danos irreparáveis, até à sua destruição. Até começar a colher os frutos dessa luta pela preservação ambiental e pelos direitos humanos.

Neste percurso, alcançou muitas pequenas vitórias e despertou muitas consciências, ao mesmo tempo que foi colecionando inimigos poderosos ao longo de um muito solitário caminho. Mas, apesar de todos os desafios, interpelações e, até, dos obstáculos que lhes criou, e muito embora a maior parte dos seus adversários não morra de amores por ela, ou pelo que ela representa, o facto é que Laurinda Seabra conseguiu ganhar o seu respeito, impondo-se como adversária valiosa e valorosa.

© ASMAA

Para além da luta contra a extração de hidrocarbonetos, pela preservação da Natureza e pela defesa dos direitos humanos, Laurinda Seabra a partir de 2012, passou a contar com o apoio da associação que, entretanto, constituiu e fundou com um grupo e amigos. A conhecida nacional e, sobretudo internacionalmente, ASMAA. E a provar que o seu, e nosso combate, é plural, no ano passado, Laurinda Seabra deslocou-se e visitou durante alguns dias, os devastadores cenários dos incêndios em Pedrogão e Oliveira do Hospital, tendo contactado com populações locais, entidades envolvidas no apoio às vítimas, e ativistas. Este ano, encontramo-la novamente, pela ASMAA, em Monchique. Sempre ao lado das populações, ouvindo, apoiando, doando bens coletados, distribuindo-os diretamente às famílias vítimas dos incêndios.

E, paralelamente, investigando as suas causas, e obscuras consequências…

Nascida em Angola, consultora de Gestão Estratégica com formação em engenharia, mas também com um passado de reconhecido ativismo reconhecido, especialmente na África do Sul, onde estudou, Laurinda Seabra nunca imaginou, nem quis, voltar a viver em Portugal. Toda a sua vida estava na África do Sul. Então, como é que uma sul-africana luso-descendente (com dupla nacionalidade), com uma vida profissional bem estabelecida na África do Sul, vem morar em Portugal, um país que mal conhece, de que tem poucas memórias. E, aqui se enraíza a ponto de levar para a frente uma cruzada solitária contra companhias petrolíferas muito poderosas, cujo maior aliado é o próprio governo, defendendo um país que ainda não se sentia como seu, mas que, se nada fosse feito, seria irrevogavelmente destruído?

“Durante trinta anos, vim ao Algarve de férias. Mas uma coisa são estas visitas frequentes, outra, muito diferente, foi a de tomar a decisão de vir viver para cá. Não se podem comparar visitas por breves períodos, com uma mudança radical.

“Vim para Portugal em março de 2009, porque a minha mãe estava com problemas de saúde muito sérios e, sendo filha única, não havia mais ninguém para ajudar nesta situação. Quando, analisada a situação, e vendo que era impossível transferir a minha mãe para a Africa do Sul, voltei ali por algumas semanas para preparar a mudança, esperando, no entanto, ter cerca de um ano para a levar a cabo. Mas no final de outubro do mesmo ano, recebi um telefonema, informando-me de que “minha mãe estava muito doente e pode não sobreviver muito mais tempo”. Neste cenário, em vez de me mudar para cá em junho de 2010, como planeara, em menos de uma semana estava novamente, no Algarve. Antecipei seis meses. Não teria vindo para cá, se não fosse por esse motivo.”

O Nascimento de Uma Associação Extraordinária

Laurinda encontrou-se assim a viver em Lagos onde, logo que a saúde de sua mãe se estabilizou, ficou sem saber o que fazer da sua vida. Foi então que tomou consciência de outros problemas, que, aprofundados, tiveram como resultado um projeto muito corajoso e muito bem estruturado, que levou à criação e lançamento de uma ONG muito especial, ASMAA: Associação de Surf e Atividades Marítimas do Algarve, no primeiro trimestre de 2012, testada em abril e oficialmente registado a 3 de dezembro do mesmo ano. Registrado como uma associação privada, sem fins lucrativos, os seus objetivos principais focavam-se, então, na proteção do meio ambiente dentro de uma estrutura económica sustentável, com foco específico nas economias locais. Posteriormente, após um extenso estudo socioeconómico que durou mais de um ano a elaborar, Laurinda percebeu que era necessária uma organização cívica diferente de todas as que já existiam. Como resultado, a ASMAA não fez da exploração de petróleo o seu foco e objetivo principais, mas alargou ainda o seu âmbito à proteção das zonas costeiras do Algarve, contra a transformação de zonas naturais em selvas de betão, ao mesmo tempo que assegurava a sustentabilidade de pequenas empresas envolvidas em atividades marítimas.

Acima de tudo, a ASMAA é uma associação voltada para a conscientização social, económica e ambiental, e esforça-se por encontrar o equilíbrio entre turismo, sustentabilidade económica e ambiental, e preservação da Natureza. A preocupação com a exploração de petróleo foi devidamente integrada nos seus estatutos originais:

4º Fins e objetivos da Associação

Sensibilizar e dar a conhecer a nossa costa contra a exploração do petróleo na costa algarvia e do Oeste. E desenvolver esforços no sentido de, não só prevenir, mas também impedir a contaminação do mar e praias, e também impedir outros danos ambientais.

3º Defesa do Ambiente

Promover a coesão social, promover os valores democráticos, incluindo a defesa dos direitos humanos,  dos direitos das minorias, e da luta contra a descriminação das comunidades afetadas […]

© ASMAA

Amizades, contatos, experiências, para a vida toda

Laurinda Seabra estava ligada à indústria petrolífera, mineira e de energia, desde 1976. Engenheira mecânica, ainda a finalizar os estudos, começou a trabalhar em 1976 com a General Mining Corporation, mais tarde GENCOR, como estagiária, por convite direto. Vivia, então, em Windoek e a entrevista de emprego seria em Joanesburgo, na semana seguinte.

Na época, ela morava em Windhoek, e a entrevista de emprego estava agendada para a semana seguinte, em Joanesburgo. A passear pela cidade, em bermuda, camiseta, cabelo apanhado em rabo-de-cavalo e pastor alemão na trela, sentiu um toque no ombro: “Estou tão feliz por encontra-la aqui! O diretor está cá e quer vê-la hoje! ‘

Laurinda tentou explicar que não poderia ir a uma reunião com o grande Dr. Wim de Villiers (que chegou a ser um amigo próximo e, nas palavras dela, “meu mentor por mais de vinte anos, até sua morte em 1991”) com um cachorro pela trela, malvestida para uma entrevista de emprego, assim, sem mais nem menos. Não adiantou nada. Pegaram-lhe pelo braço e levaram-na para os escritórios da empresa. Quando a entrevista chegou ao fim, a jovem estudante estava contratada. Mas Wim de Villiers, com sua inteligência e sensibilidade, compreendeu quem tinha à sua frente e explicou à jovem Laurinda, que uma pessoa como ela «não pode ser empregada de ninguém»:

–“Recomendo-lhe absolutamente que se mude para o campo da consultadoria, logo que seja o momento certo”, disse ele. E foi assim que me tornei consultora nas áreas do petróleo e energia, em várias mineradoras, com a SOEKOR de onde fui transferida para a SASOL, com breves passagens pela ESKON. A partir do inicio dos anos 80, saí da área técnica operacional, e passei para o gerenciamento de projetos e daí para a área de auditorias técnicas e comerciais.

Desses tempos, para lá dos conhecimentos desenvolvidos e acumulados, ficaram-lhe amizades para a vida, e uma preciosa agenda de contactos no mundo inteiro. E a ferramenta maior, a da experiência. Laurinda recorda que, a certa altura, foi enviada pela gerência da SASOL (South African Coal, Oil and Gas Corporation Ltd.) para Secunda, uma cidade construída depois de 1974 a pouco mais de cem quilómetros de Joanesburgo. Secunda é uma região rica em reservas de carvão com água em abundância, onde, para além da extração do carvão e da conversão de carvão em gás e líquidos, as suas fábricas produzem derivados do petróleo, como plástico, fertilizantes, fibras sintéticas, detergentes…  “Mas nessa cidade modelo, havia muitos problemas, com os quais a alta gerência se preocupava. A minha missão era detetar irregularidades, nomeadamente a existência de trabalhadores fantasmas nas folhas de pagamento…”

As histórias davam para um serão e ainda sobravam para um livro. Dessas, Laurinda recorda, ainda, o roubo, espantoso e inexplicável, de um equipamento de 50 e tal toneladas que saiu da área de alta segurança da fábrica, sem ninguém ter visto! Uma máquina que não podia ser desmontada sem ser detetada imediatamente! Como poderia ter desaparecido no ar?

A solução era tão óbvia que demorou algum tempo para a descobrir. A máquina de grandes dimensões tinha rodas e saíra da fábrica, por assim dizer, “pelo próprio pé”, sem que ninguém tivesse estranhado, numa cidade onde máquinas de todo o género se cruzavam, mais uma, a circular, até desaparecer.

Acima de tudo, o que Laurinda Seabra aprendeu ali, aos vinte e poucos anos de idade, foi a abrir os olhos para a corrupção “que pode acontecer até dentro de uma empresa tão bem organizada”, ao mesmo tempo em que tomava conhecimento do tremendo impacto ambiental e seus efeitos na saúde das populações: “Em Secunda havia contaminação de solos, água e emissões atmosféricas, com graves consequências na vida e na saúde das pessoas. A partir daí, quando chegamos à década de 90, percebi a corrupção dentro da indústria, a falta de ética, e o maior imperativo que era o de cortar custos a qualquer custo, com os seus consequentes e devastadores efeitos na vida de todos. E não gostei disso.”

Como consultora, tinha acesso a uma enorme quantidade de informação, e, acima de tudo, podia alertar, denunciar e agir. Um funcionário não podia fazer isso, a menos que estivesse preparado para sacrificar o próprio emprego. Paralelamente, Laurinda Seabra continuou fortemente envolvida com a sociedade civil, como ativista. E sempre que as informações que colhia envolviam a proteção dos direitos dos trabalhadores, não hesitava em denunciar e agir. Como vinha fazendo desde 1975, desde os tempos da universidade, quando fazia parte de vários grupos de ação, incluindo o Black Sash da África do Sul.

© ASMAA

“Estás em Portugal? Queres vir trabalhar connosco na REPSOL?”

Anos depois, ao chegar a Portugal em 2010, Laurinda Seabra recebeu um telefonema de um amigo de longa data que trabalhava na REPSOL: “Perguntou-me, ‘o que estás a fazer no Algarve?’ E, de seguida, acrescentou: ‘Queres vir trabalhar para nós?’ Morava em Madrid e estava ligado aos contratos de exploração na Bacia do Algarve. Nesse tempo, eu nem sequer sabia que havia petróleo, quando mais contratos de exploração de petróleo e gás em Portugal.”

Isso despertou a sua curiosidade.

E foi assim que Laurinda Seabra deu por si, novamente, a investigar. Só que agora estava sozinha, por conta própria e sem uma rede local de apoio: “Fui às universidades. Fui a todo o lado. Telefonei aos ministérios. E… não consegui encontrar informação em lado nenhum. É certo que o meu português, à época, era muito pobre. Mas mesmo assim… em Espanha sabia-se que haveria exploração de combustíveis fósseis em Portugal, e em Portugal, ao mais alto nível, ninguém sabia de nada?? Tive de ir procurar informação fora do país. E foi o que fiz»

Em 2011 e em 2012, a investigação deu resultados e Laurinda Seabra teve acesso a cópias dos contratos em Portugal, que mandou traduzir para inglês por um amigo da área do petróleo: “Então, caiu o véu. E comecei a fazer mais perguntas…”

E à medida que mais e mais informações factuais iam sendo reunidas, aumentava o seu conhecimento sobre os riscos iminentes; no processo, Laurinda percebeu duas coisas. Uma, delas era que não voltaria tão cedo para a África do Sul. Outra, era que ela tinha mais um combate entre mãos. Mas este seria o maior de todos. Uma espécie de luta de Davi contra Golias, sem fim à vista!

Durante a sua pesquisa, ela descobriu que os contratos não trariam valor para a região, para as pessoas ou mesmo para Portugal. Em contrapartida, e à medida que os ‘garimpava’ um a um, ia encontrando inúmeras irregularidades processuais e administrativas, que configuravam um quadro de riscos enormes para os ecossistemas marinhos e costeiros, por exemplo.

A ASMAA começa então a laborar a todo o vapor. Porta a porta, a ativista fala, alerta as pessoas, colhe apoios, sobretudo da comunidade estrangeira, muito mais bem informada, e habituada a fazer perguntas e a exigir respostas. Sob o lema inicial de “Oilgarve – Algarve Diz Não / Algarve Diz Não à Perfuração de Petróleo”, seguido das campanhas “Nem Um Furo! Não AGORA… Não no Futuro” (Nem UM Furo! Nem Agora… Nem NO Futuro), A ASMAA motivou milhares de ativistas e pessoas comuns em todo o país a participarem da luta, levando à criação de muitos grupos comunitários e informais.

Esses ativistas começaram a aumentar a consciencialização, junto das próprias comunidades, sobre os impactos negativos do fracking e exploração de petróleo e gás para o meio ambiente, incluindo os riscos bem documentados de contaminação de aquíferos subterrâneos, poluição do ar, ruído, aumento de riscos de atividade sísmica, compartilhando igualmente informação bem estudada e fundamentada sobre o que está a acontecer noutras partes do mundo. Ao mesmo tempo, Laurinda Seabra sublinhou os impactos negativos que a exploração de petróleo teria sobre as atividades económicas existentes na região, como turismo, pesca e agricultura.

Durante este período, a ASMAA divulgou para uma população adormecida, o pacote de mentiras da indústria e do governo, pondo a nu a vasta rede de desinformação que existia e continua a existir até hoje. Tais como os últimos contratos com a empresa australiana “Australis Oil & Gas” que foram assinados poucos dias antes de um novo governo tomar posse, em setembro de 2015, entregando-lhes as áreas de concessão de Pombal e Batalha. É uma vastíssima região, composta por 16 blocos cada, abrangendo parte dos distritos de Coimbra, Leiria e Santarém, entre o estuário do rio Mondego, a norte, até ao município de Ourém, no sul, onde se localiza o Santuário de Fátima.

Ora é absolutamente factual que a preciosa Serra dos Candeeiros não irá resistir ao impacto brutal destas operações de perfuração. E é também um facto que o Castelo de Pombal corre riscos muito sérios de ser danificado de forma irreversível! E podemos continuar e continuar … sem nos esquecermos de mencionar a contaminação irrevogável do bem mais precioso que a humanidade (ainda) tem em alguns países: Água!

© ASMAA

«O dia em que as coisas mudaram»

Na ASMAA, Laurinda continua o seu trabalho duro junto com um grupo de ativistas que se têm mantido sempre a seu lado, e outros, que, entretanto, têm vindo a chegar. A equipe da ASMAA foi de porta em porta, organizou muitos eventos de informação, alertou as pessoas, coletou apoios, especialmente junto das comunidades estrangeiras – tanto moradores quanto visitantes ocasionais. Pessoas, de modo geral, muito mais bem informadas e acostumadas a fazer perguntas e exigir respostas.

O resto, é História e as estórias do que estamos a fazer. Todos os dias. Com pontos altos e notáveis, como quando, tendo recolhido 42 mil assinaturas em quatro semanas, reunião uma delegação de centenas de pessoas para protestar em frente ao Parlamento Português, em Lisboa, enquanto entregou a sua petição. Forçando o governo a reconhecer a voz do povo e os seus direitos… pelo menos, na aparência. (Na verdade, foi apenas uma cortina de fumo e jogos de espelhos…)

E quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017, ficou para a história como «o dia em que as coisas realmente mudaram». Secundado por centenas de ativistas do Algarve e do Alentejo, o protesto subiu à capital e protagonizou uma tarde de protestos ‘non-sense’ em frente das escadarias da Assembleia da República. Foram, pelo menos, 500 pessoas que, sem arredar pé, cantavam sem parar Não ao furo! Sim ao Futuro! aguardando o regresso de Laurinda Seabra e de um punhado de ativistas, a quem os membros da Assembleia da República (com representantes de todos os partidos com assento no Parlamento) foram literalmente forçados a receber, já que representavam 42.5000 pessoas que assinaram a petição que rejeitava a exploração de petróleo e de gás em Portugal. Foi também a primeira vez que tal audiência foi prolongada, dos 10 minutos previstos para apresentar o caso aos líderes parlamentares, para mais de uma hora.

Mas ainda tivemos de esperar até 21 de dezembro de 2017 para que o governo se dignasse a responder ao desafio apresentado pela petição da ASMAA. Sem realmente fornecer as decisões e resoluções apropriadas, mas apenas, e mais uma vez, a sacudir as objeções das pessoas para debaixo do tapete. Seja como for, esta foi uma das primeiras e mais retumbantes pedras no sapato de um executivo que se viu confrontado com algumas verdades desagradáveis: contratos feridos de muitas ilegalidades flagrantes; potencial fraude fiscal e todo um processo ‘armadilhado’ com decisões obscuras, altamente prejudiciais para Portugal e para os portugueses.

Em nome do Povo, decisões foram tomadas por um punhado de pessoas no poder e pelos seus aliados nas indústrias, todos provenientes de diferentes partidos e diferentes mandatos do governo. Disto, resultou uma gravíssima situação de má administração, levada ao ponto de quase não retorno. Mas desta vez, foram forçados a envolver-se, a confrontar e a serem confrontados por pessoas. Mas a história não termina aqui. Em 2018, a ASMAA iniciou vários processos legais, que ainda estão em andamento.

A realidade é que eles foram apanhados de surpresa.

Não conheciam a força do Povo, a sonoridade da sua Voz e o poder desta Mulher.

© ASMAA

A Reunião das ASMAAZONAS

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Há, na ASMAA, uma mistura muito interessante de gente — homens e mulheres —, envolvidos de forma muito dinâmica com e na Associação. Mas, a nível da liderança, a guarda avançada integra um pequeno grupo de “Asmaazonas”. A elas juntam-se milhares de outras “Asmaazonas” espalhadas pelo mundo que têm vindo a apoiar estes combates ambientais e outros, com um leque muito variado de competências e conhecimentos nas mais diversas áreas e profissões. Nomeadamente médicas, enfermeiras, advogadas, engenheiras, consultoras, TI, administradoras, especialistas em finanças, etc.

Esta incrível rede, construída ao longo de dezenas de anos, integra na sua maioria, como dissemos, mulheres de todo o mundo, que partilham uma visão comum: “Garantir que deixamos este planeta em condições de vida para os nossos filhos, os nossos netos e os filhos que virão”.

Assiste-se assim a uma tomada de consciência que faz com que todos se sintam pessoalmente responsáveis pela proteção dos oceanos, dos rios, da terra e do ar, da água potável e da floresta e seus ecossistemas. Essa responsabilidade inclui a noção premente de que nos cabe a nós a defesa da sustentabilidade de nossas economias locais em qualquer lugar do mundo, não apenas em Portugal.

Neste momento, a equipa inclui cinco líderes muito dinâmicas que partilham a sua singularidade, alegria, e vasta gama de competências, com esta incrível associação. São elas os rostos da ASMAA no nosso país: Laurinda Seabra, Manuela Gonzaga, Petra Pinto, Bernadette Abbott e Catrine Ferrand. Mas não estão isoladas. Em Portugal de norte a sul (incluindo as ilhas da Madeira e Açores), juntam-se-lhes centenas de outras Asmaazonas, e a rede está em constante crescimento.

A pergunta que perturba muito boa gente é como foi possível criar essa extraordinária organização, a partir de recursos financeiros tão limitados? A resposta ultrapassa o fulgurante Big Bang ambientalista desencadeado por Laurinda Seabra, porque não estamos a falar do poder de uma só mulher, nem da força de um único momento, mas da energia de muitos milhares de outras que se lhe juntaram. Num imparável crescendo. E que se lhe continuam a juntar.

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*Manuela Gonzaga, que em 2016 ingressou na ASMAA como membro sénior do conselho diretivo, é uma autora consagrada, com 13 livros publicados, da ficção à biografia, passando pela literatura juvenil, ensaios e contos. Historiadora, com grau de mestre em História da Expansão Portuguesa, abandou em 2000 o jornalismo a que esteve ligada durante mais de 30 anos, para se dedicar à escrita, à investigação académica e ao ativismo a tempo inteiro – nas áreas da defesa ambiental e direitos dos animais. Na verdade, em todas as áreas que tenham impacto sobre os direitos humanos. Em 2015, foi candidata presidencial apoiada pelo PAN – Pessoas, Animais, Natureza, tomando como lema para a sua campanha o mote da sua própria vida, ‘Liberdade Incondicional’. Posteriormente, pôs de parte a política ativa, optando pelo envolvimento direto no ativismo, incluindo o envolvimento em ações no terreno sempre que necessário. A sua admiração pelo trabalho extraordinário de Laurinda Seabra determinou o resto. Desde então, tornou-se uma das líderes das ASMAAZONAS, e passou a dedicar-se inteiramente às áreas de defesa do território e do mar português sob a mira das grande companhias petrolíferas, que, com o apoios sucessivos de vários governos, estão a um passo de destruir de forma irrevogável a paisagem e as riquezas nacionais, a troco de coisa nenhuma para os portugueses, tal como os contratos elaborados entre partes, escandalosamente denunciam. Em 2017, e enquanto as campanhas de perfuração de petróleo estavam a decorrer, com Laurinda Seabra e um punhado de ativistas radicados no Algarve, reuniram bens de primeira necessidade e deslocaram-se aos territórios devorados pelos grandes incêndios, para, em nome da ASMAA, apoiarem as populações afetadas. Durante vários dias, cruzaram uma terra ainda fumegante, reduzida a cinzas, casas em escombros, bosques, florestas, hortas e campos de cultivo carbonizados para irem ao encontro de numerosas pessoas, reunindo-se também com representantes do poder local, e com membros de pequenas associações. Graças ao enorme apoio reunido no Algarve e no Alentejo, durante aproximadamente 6 meses, a ASMAA continuou a apoiar as populações vitimizadas a quem os incêndios roubaram casas, bens, vidas e futuro. Desde então, com esta e outras ações subsequentes, a ASMAA passou a empunhar mais uma bandeira na defesa dos direitos humanos, sob o lema “DAR VOZ AO POVO”. Entretanto, Manuela Gonzaga continua a escrever e a publicar. Alguns dos seus livros estão já traduzidos e editados em francês em Le Poisson Volant.

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Laurinda Seabra – Giving Voice To The People

by Manuela Gonzaga*

When the talk in Portugal is about the fight against the oil industry giants that want to drill our shores and land, and the obscure interests beyond it, Laurinda Seabra is the first name that comes to mind. It was she who more than seven years ago started an investigation into offshore oil and gas drilling contracts awarded by the Portuguese government – oil exploration contracts that are surrounded by scenarios ranging from the dark to the surreal – and in the process awoke Portugal to its risks.

Laurinda achieved many small victories, awoke many consciences, while at same time collecting powerful enemies along the way, who, despite all the challenges she threw in their paths, with majority having no love lost for her or what she stands for, Laurinda still managed to gain their respect as a worthwhile opponent.

She has campaigned in the streets, defending the rights of a population completely alienated from this process; fighting for the preservation of a magnificent nature threatened with irreparable damage and even destruction.

Over and above the fight against oil drilling, she fights for the preservation of nature and the defence of human rights, initially on her own, and later through the dully-constituted association that she founded with friends in 2012 – ASMAA.

© ASMAA

Throughout the ongoing fight against oil drilling, and during the devastating Dantean scenarios of the fires in Pedrogão and Oliveira do Hospital last year, and, this year, in Monchique. ASMAA has been directly involved: supporting, listening to and donating goods collected – and distributing them directly to the individuals and families affected by the fires.

Born in Angola, a Strategic Management Consultant with an engineering background, but also with a past of recognized activism, especially in South Africa, where she went to study as a youngster.  Laurinda never imagined or wanted to come to live in Portugal. All her life was in South Africa.

So how does a South African Luso-descendent (with dual nationality), with a well-established professional life in South Africa, who loves Africa, comes to live in Portugal? A country that she scarcely knows or has many memories of, and then finds herself carrying out a solitary crusade against very powerful oil companies and the installed powers of government, defending a country that did not yet feel like her own, but that, if nothing was done, it would irrevocably be destroyed?

“Although I often visited the Algarve over a period of 30 years on holiday, it was very different from making the decision to live here permanently – it is one thing to visit for brief periods and another to relocate.

In March 2009 I came to Portugal because my mother had some serious health issues and being an only child, there was nobody else to help with the situation. After analysing what was going on, and seeing that it was impossible to relocate my mother to South Africa, I returned home to South Africa a few weeks later to prepare my move to Portugal, expecting to have about a year to do it in. But late in October that year, I received a call, informing me that ‘my mother was very sick and may not have survived past the end of the year’.

By then, everything was in motion for my relocation around June/July 2010, but confronted with her serious health situation, in two weeks I was, once again, back in the Algarve, thus bringing my move forward by over six months.

The truth is that I would not have come to live in Portugal if it had not been for that reason.”

The Birth Of A Extraordinary Association

It was for above reasons that Laurinda found herself in Lagos, and once her mother health had stabilised, she was at a loss of what to do with her life. But then other matters got her attention, and as a result, a very courageous and well-structured project was born which would leed to the creation of ASMAA.

Conceptualised in the first quarter of 2012, tested in April 2012 and officially registered on December 3 of that year. Resulting in that a very special NGO was launched – ASMAA: Algarve Surf and Marine Activities Association. Registered as a private, not-for-profit association whose primary objectives were then focused on protecting the environment within a sustainable economic framework focusing specifically on local economies.

After an extensive socio-economic study lasting more than 12 months, Laurinda realised that the need existed for a different type of civic organisation, one that was structured differently from these in existence in Portugal. As a result ASMAA did not only have the oil exploration as its mains objective, but also was created with a focus to protect the coastal zones in the Algarve against the transformation of a natural zone into a concrete jungle, while concurrently ensuring the sustainability of small businesses involved in maritime activities.

Fundamentally, ASMAA is an association focused on raising social, economic and environmental awareness. Striving to find the balance between tourism, economic and environmental sustainability and preservation. The concern about oil exploration was dully integrated into its original Articles of Association:

4º Purposes and objectives of the Association

Raise the awareness and protection of our coast against oil exploration in the Algarve and the West Coast of Portugal. Focusing not only on preservation of our oceans, but also take the necessary steps to prevent the contamination of the sea and beaches and other environmental damage.

3º Environment Protection

Promote social cohesion, democratic values, including the defence of human rights, minority rights, and the fight against the discrimination of affected communities […]

© ASMAA

Friendships, contacts and experiences for life

Laurinda Seabra had been involved in the petroleum, mining and energy industries since 1976. Mechanical engineer, while still finishing her studies, she began her working career in 1976 with General Mining Corporation (GENCOR), as a trainee, through a direct invitation from one of its top executives.

At the time, she was living in Windhoek, and a job interview had been scheduled to take place in Johannesburg the following week. While walking around in town in Windhoek, in shorts, a T-shirt, hair in a pony tail and with her German shepherd on a leash, she felt a touch on her shoulder: ‘I’m so glad to find you! The director is here, and he wants to see you today! ‘

Laurinda tried to explain that she could not go to a meeting with the great Dr. Wim de Villiers (who came to be a close friend and, in her words, “my mentor for more than twenty years, until his death in 1991”) with a dog in a leash, wrongly dressed for an interview, and on the spur of the moment. It did not do any good. They took her by the arm and led her to the company’s offices. When the interview came to an end, the young student was employed. But Wim de Villiers, with his intelligence and sensitivity, understood whom he had in front of him and explained that a person like her cannot be employed by anyone:

“I strongly recommend that you move into the consulting field as a contractor when the time is right,” he told me. And that’s how I became a consultant in the oil and energy sector, with various mining houses, with SOEKOR from where I was transferred to SASOL, with brief stints at the energy corporation ESKOM. From the early 80’s, I left the operational technical arena and moved into project management and from there to the area of technical and commercial audits.

From these times, beyond the knowledge developed and accumulated, many friendships for life were developed, which resulted in a precious list of worldwide contacts.

Laurinda recalls that at one point she was sent by SASOL’s management (head office of Sasol Limited) to Secunda, a city built after 1974 just over 100 kilometres from Johannesburg. Secunda is a region rich in coal reserves and abundant water, where in addition to the extraction of coal and the conversion of coal to gas and to liquids, its factories produce petroleum by-products such as plastic, fertilizers, synthetic fibbers, detergents … but in this vibrant town, there were many problems which top management where concerned with. My task was to get to the bottom of some irregularities; among them the existence of ‘ghost’ workers on payrolls … the stories turned into a sermon and there was still plenty left over for a book.

Of these, Laurinda recalls still the astonishing robbery of a 50ton piece of heavy equipment that just walked off the high security factory area, a machine that could not be dismantled without being detected immediately.

How could it have vanished into thin air?

The solution was so obvious that it took some time to figure it out. The oversized machine had wheels. He had left the grounds, so to speak, “by its own foot,” and no one had found it strange in a city where machines of all sorts crossed each other, one more to circulate until it disappeared.

Above all, what Laurinda Seabra learned there in her early twenties was to open her eyes to corruption “which happens even within such a well-organized enterprise,” while simultaneously becoming aware of the tremendous environmental impact and its effects on the health of populations: “In Secunda there was contamination of soils, water and air emissions, with serious problems for public health. From then on, as we arrived in the 1990s, I became aware of the corruption within industry, the lack of ethics, the greater imperative to cut costs at any “cost”, and the consequent effects of all this on people’s lives and health. And I did not like it. »

As a consultant, she had access to a tremendous amount of information, and, above all, she could alert, denounce, and act. An employee could not do that unless he/she was prepared to sacrifice his or her own job. At the same time, she continued to be heavily involved with civic society as an activist. Whenever the information she collected involved the protection of workers’ rights Laurinda Seabra did not hesitate to denounce and act. As she had been doing since 1975, since university days, when she was part of several action groups, including the South African Black Sash.

© ASMAA

“Are you in Portugal? Do you want to come and work with us at REPSOL? “

Years later, upon arriving in Portugal during the course of 2010, Laurinda received a call from a long-time friend who was working at REPSOL: “He asked me, ‘what are you doing in the Algarve?’ And then he added: Do you feel like working for us? “He lived in Madrid and was connected to the exploration contracts in the Algarve Basin. At that time, I did not even know there was oil or gas exploration planned for the Algarve, much less that there were active oil & gas exploration contracts in Portugal. ”

That raised her curiosity.

And Laurinda Seabra found herself investigating once again. Only, then, she was on her own and without an established local network: “I went to the universities. I went everywhere. I called the ministries. And … I couldn’t find information anywhere. It is true that my Portuguese at the time was very poor, really nearly non-existent. But even so … in Spain they knew that there would be fossil fuels exploration and in Portugal, at the highest levels, nobody knew anything?? I had to go and search for information outside the country. And that is what I did.”

During 2011 and 2012, the investigation paid off and Laurinda had access to copies of the contracts in Portugal, which she had translated into English by a friend in the oil field: “Then the veil fell. And I started to ask more questions … ”

And as more and more factual info was gathered, my know-how about the developing risks grew; in the process Laurinda realised two things. One was that she was not going to return to South Africa very soon. Another was that she had one more fight on her hands. But this one would be the greatest of them all. A kind of David versus Goliath struggle, without end in sight!

During her research, she found that the contracts would not bring value to the region, to the people or even to Portugal, but would bring numerous risks. She found many procedural and administrative irregularities, and numerous risks to the marine and coastal ecosystems for example.

Under the initial motto of “Oilgarve – Algarve Diz Não / Algarve Says No to Oil Drilling”, followed by the “Not ONE Well! Not NOW … Not in the Future” (Nem UM Furo! Nem Agora … Nem NO Futuro) campaigns, ASMAA motivated thousands of activists and ordinary people across the country to join the fight, leading to the creation of many community and informal groups.

These activists proceeded to raise further awareness in their own communities about the negative impacts of Fracking and oil and & gas exploration on the environment, including the very well documented risks of contamination of groundwater aquifers, air pollution, noise, increased seismic activity risks, through sharing well researched data about what is happening in other parts of the world. She highlighted as well the negative impacts that oil exploration would have on existing economic activities in the region, such as tourism, fishing and agriculture.

During this timeframe, ASMAA disclosed to a uniformed population, the industry and government pack of lies and the vast web of disinformation that was and continues to this day. Such as the latest contracts with the Australian company “Australis Oil & Gas” signed a few days before a new government took over in September 2015 for the concession areas Pombal and Batalha. Comprising 16 blocks each, covering part of the districts of Coimbra, Leiria and Santarém, between the estuary of the river Mondego, in the north, to the municipality of Ourém, in the south, where the Sanctuary of Fatima is located.

It is a fact that the precious Serra dos Candeeiros will not resist the impact of these drilling operations. The Castle of Pombal, runs very serious risks of being damaged! And we can go on, and on … and let’s not forget to mention the irrevocable contamination of the most precious asset that humanity (still) has in some countries. Water!

«The day that things changed»

In ASMAA, Laurinda continues her hard work together with her close group of colleagues. ASMAA team went door-to-door, run many information events, alerted people, harvested support, especially from foreign communities – both residents and occasional visitors. People that are much better informed, and accustomed to asking questions and demanding answers.

The rest is history and the stories of what we are doing. Every day. With high and remarkable points, such as when, having collected 42,000 signatures in 4 weeks, it gathered a delegation of hundreds of people to protest in front of Portuguese Parliament in Lisbon when they handed their petition in. Forcing the government to recognize the voice of the people and their rights … at least in appeared to do so (but its in fact just all smoke and mirrors).

And on Thursday, February 23, 2017, went down in history as “the day things have really changed.”

Accompanied by hundreds of activists from the Algarve and the Alentejo, the protest rose to the capital and staged an afternoon of non-sense protests in front of the steps of the Assembly of the Republic.

There were at least 500 people who, without losing their feet, sang without stopping. No to the drilling! Yes to the Future! Awaiting the return of Laurinda Seabra and a handful of activists, to whom the members of the Assembly of the Republic (with representatives of all parties and not only) were literally forced to receive them since they represented the 42,5000 people who signed the petition that rejected oil and gas exploration in Portugal. It was also the first time that such an audience was extended to the people from the original 10 minutes in which to present our case to parliamentary leaders to over one hour in which to do so.

But we still had to wait until 21 December 2017 for the Government to ‘deign’ to respond to the challenge posed by ASMAA’s petition. Without really providing the appropriate decisions and resolutions, and just sweeping the objections by the people under the carpet once again.

In any case, be that as it may, this was one the first serious and most resounding stones in the government executive’s shoes that was confronted with some unpalatable truths: contracts filled with many flagrant illegalities, potential tax fraud, and a whole process dressed in obscure decisions, all highly damaging to Portugal and the Portuguese.

Decisions had been made on behalf of the people by a handful of people in power and their allies in the industries, all coming from different parties and different government mandates, resulting in a serious mismanaged situation and driven to point of almost no return. They were forced to engage and confront the people. But the story does not end here. In 2018, ASMAA started various legal proceedings, which are still running.

The reality, is that they were taken by surprise, by the strength of the People, the sound of their Voice and the power of this Woman.

© ASMAA

The Gathering of the ASMAAZONAS

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ASMAA management is an interesting mix of people, although having many males in our midst; at the forefront are a team of real female “Asmaazonas” leading the association in Portugal. But in the background we are supported by an amazing network of thousands of “Asmaazonas” spread throughout the world.

A network built over dozens of years, integrating women who share a common vision: “Ensuring that we leave this planet in a living condition for our children, our grandchildren and the children to come.”

This means that we all see it as our responsibility to protect our oceans, our drinking water, our rivers, our land, our air, our forests and its ecosystems, as well as protecting the sustainability of our local economies anywhere in the world, not just in Portugal.

They are the Portuguese “Asmaazonas´” back up and support – they are their backbone. Offering them access to a wide pool of skills, competencies and knowledge, across most professions: i.e. doctors, nurses, attorneys, paralegals, engineers, consultants, IT, administrators, financial experts, etc.

Currently in Portugal, our top team includes five very dynamic female leaders, all bringing their own uniqueness; and a wide range of skills and competencies to this amazing association.  They are the ones that are the faces of ASMAA in Portugal, and they are:  Manuela Gonzaga, Laurinda Seabra, Petra Pinto, Bernadette Abbott and Catrine Ferrand. But they are not alone in Portugal. Their network of support in Portugal is currently in the hundreds from north to south (including the islands of Madeira and Acores) and this network is constantly growing; expanding its reach, and its effectiveness.

Many have wondered how did they manage to create this amazing organisation, with limited financial resources? It was not through the power of one woman, but through the power of thousands.

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*Manuela Gonzaga, who joined ASMAA as a senior board member in 2016, is a renowned author, with 13 published books, ranging from fiction to biography; from youth focused literature to essays and short stories. An historian, with a master’s degree in Portuguese Expansion History, in 2000 she left her journalistic career of more than 30 years to devote herself to full-time writing, academic research and activism – in the areas of enviromental defence and animal rights. In fact, focusing on anything that impact on human rights. In 2015, Manuela was a PAN-supported presidential candidate (People, Animals, Nature). She run her campaign under the banner of ‘Unconditional Freedom’. Subsequently, active politics was replaced by direct, and on the ground activism. Her admiration for the extraordinary work of Laurinda Seabra determined the rest. Since then, she has become one of the ASMAAZONAS leaders, actively involved in defending both offshore and onshore attempts to drill (and frack) Portugal. Campaigning against big oil companies, that with the support of successive governments, are one step away from irrevocably destroying our natural landscape, and our national wealth , for nothing. Concurrently, while the anti-oil drilling cmpaigns were running, together with Laurinda Seabra and a handful of other activists based in the Algarve, after gathering basic necessities for fire victims during the great fires of 2017, they went to the affected areas in the centre of Portugal. There they met with many local people, and local government representatives, in areas where they were confronted face-to-face with the devastating reality that the fires had left behind (facing some still smouldering fires too).  Thanks to the massive support gathered across the Algarve and Alentejo, for approximately 6 months ASMAA continued to provide support for the victimized populations, who have been robbed of houses, assets, lives and the future. This action has since then become another banner of ASMAA’s campaign to “GIVE VOICE TO THE PEOPLE”.

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Do Verde ao Cinzento: A Minha experiência com o Meu Ambiente

por Quadros Karen Aditi*

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Quando saí da minha aula de Ecocriticismo para escrever um pequeno parágrafo sobre a Natureza, ia com a mente acelerada. Qual será o melhor lugar para escrever um breve artigo sobre a Natureza? Não, espera, primeiro preciso de programar o alarme, pensei. E foi o que fiz. Agendei o meu telefone para 20 minutos mais tarde, para ter certeza de que a criatura esquecida que sou não se perdia em algum lugar e se esquecia completamente de voltar para a aula. Enfiei rapidamente o telefone no bolso e segui caminho. Agora, um pequeno parêntesis para partilhar alguns detalhes técnicos sobre o que me rodeia. Por favor, siga-me e a sua paciência será recompensada! A minha sala de aula está localizada na ala A do edifício académico. O bloco académico consiste numa cúpula central chamada de abóbada B com duas asas, à esquerda e à direita, a asa-A e a asa-C. Cada asa tem quatro andares. A minha sala de aula situa-se no terceiro andar. Ao atravessar depressa o corredor e o lance de escadas, reparei em vários estudantes que caminhavam à minha frente e pararam nos corredores. Pareciam bastante satisfeitos em permanecer dentro do edifício a escrever sobre as árvores que podiam ver à distância. Mas sendo eu uma observadora atenta e uma amante da Natureza, pensei que deveria aproveitar esta oportunidade para me aproximar do mundo natural e testar as minhas capacidades de observação. Assim, dei por mim a caminhar em direcção ao terreno aberto perto da oficina. A oficina está localizada atrás da asa-A do bloco académico. É um prédio antigo, escuro e com mofo, de dois andares, onde funciona o Departamento de Mecânica da minha faculdade, e onde os alunos mais velhos criam interessantes e brilhantes obras em metal e madeira, usando várias matérias-primas e ferramentas, como cinzéis, arquivos de metal, serras, e lixas; e máquinas, como o torno de madeira, o torno de metal, a estação de soldagem, a moagem e o forno de alumínio que lá têm disponível. Deveria estar ocupado durante esta época do ano, uma vez que a oficina é um dos cursos obrigatórios para todos no primeiro ano de engenharia. Pensar como este seria um local ideal para observar a Natureza já que estávamos na estação das chuvas, e o facto de estar cheio de vida, excitavam-me enquanto acelerei o ritmo. Desci outro lance de escadas e atravessei o espaço até o fim do corredor. Agora, já não havia estudantes perto de mim. Uma curva afiada e voila, a passagem aberta ao fim da qual se encontra a oficina! Imediatamente me quedei morta! Passou muito tempo desde a minha primeira visita à oficina até agora, que já estou no meu último ano de engenharia, e não como estudante de mecânica. Encontrei o local completamente diferente do cenário que eu tinha em mente com abelhas felizes zumbindo, pássaros chilreantes e o restolho das folhas das árvores. Bom, pelo menos do meu lado direito. Reflecti sobre o enorme contraste entre os ambientes à minha esquerda, direita e em frente. E tive uma ideia brilhante. Deveria escrever um parágrafo sobre esse cenário, esse contraste, em vez de entrar diretamente na região selvagem em aberto do meu lado esquerdo. Então, pronta para fazer observações, sentei-me na pequena saliência que se projectava a partir de um dos pilares que apoiam a calçada e abri o meu caderno. Olhei para as árvores distantes do meu lado esquerdo enquanto ouvia os pássaros chilrear. O chão ainda molhado de uma chuva recente estava coberto de ervas verdes e exuberantes de todo o tipo.

© Quadros Karen Aditi

Os pássaros eram cucos, creio. Lembrei-me de como fiquei fascinada quando a minha mãe me disse que eles não construíam os seus próprios ninhos mas que colocavam os seus ovos em ninhos de corvos, pois os ovos dos cucos se parecem com os dos corvos. No momento em que o engano é descoberto pela inadvertida mãe corvo inocente, quando os filhotes começam a usar o seu cucu distinto, já é tarde demais, já são suficientemente grandes para se defenderem. Ri-me a imaginar a mãe cuca perplexa interrogando-se sobre qual seria o problema do seu filhote. Que pesadelo! Então uma brisa fresca soprou na minha direção e sorri enquanto sentia que acariciava o meu rosto. As ervas curvaram-se gentilmente, como a reconhecer a sua presença. Ao mesmo tempo, eu podia ouvir o som nítido das folhas que restolhavam à distância. Pareciam dançar com alegria. E eu conseguia sentir o cheiro do solo húmido, aquele cheiro de terra fresca familiar que imediatamente me lembrou a minha infância. Dias inocentes de felicidade pelos mais simples dos motivos. Lembrei-me das correrias com as minhas irmãs para fora de casa para dançarmos e mergulharmos na chuva (com grande desânimo da minha mãe em gritaria contra nós, já que poderíamos apanhar uma constipação). Podia sentir o cheiro do “cheiro da chuva” (como lhe chamava na infância) mesmo antes de ouvir o seu ruído nos telhados. Orgulho-me do meu sentido do olfacto, adivinhando corretamente o que minha mãe cozinhava para jantar a uma milha de distância! (exagero apenas um pouco na distância). Olhei para o céu nublado e reparei na sensação de escuridão que criava em todo o terreno.

Olhei para baixo perto dos meus pés e avistei um verme castanho colorido que se agitava nas pedras e na cerâmica quebrada entre as ervas daninhas. O seu corpo anelado e as cem pernas minúsculas que detectam sensivelmente o meio ambiente e qualquer perigo iminente, ao mesmo tempo que tentam encontrar o seu caminho avançando em círculos. Pequeno verme engraçado, pensei, porque razão a dança estranha? Talvez estivesse à procura de comida ou talvez seja um verme paranoico que ali ficará preso por muito tempo. Então, reparei numa pequena joaninha na ponta de uma lâmina de erva que parecia cebolinho. Era uma joaninha clássica com o corpo em forma de cúpula e asas avermelhadas com manchas negras. Parecia estar ocupada quando se arrastou nas seis pernas curtas e pretas, e senti um impulso crescente para lhe pegar mas foi quando uma rajada de brisa varreu tudo e eu perdi-a de vista. Lembrei-me de que pegar em insectos e brincar com eles era um dos meus passatempos favoritos na infância. Conseguia suspender sigilosamente duas borboletas seguindo-as e, rapidamente, pegando-lhes pelas asas quando descansavam em qualquer flor. Mesmo as libélulas não foram poupadas. A minha família deixou de ter de se preocupar com as mariposas irritantes desde que comecei a correr à volta de toda a casa, apanhando-as nas minhas palmas e mostrando-as orgulhosa às minhas irmãs que ficavam assustadas e fugiam de mim. Após algum tempo, as mariposas pararam totalmente as visitas a minha casa. Fiquei muito desapontada. Então comecei a brincar com as formigas pretas. Pegava-lhes cuidadosamente, certificando-me de não as magoar e deixando-as na palma da minha mão. Elas tentavam desesperadamente fugir mas eu manipulava-as cuidadosamente para subirem pela minha outra mão endireitando o meu pulso. E o ciclo repetia-se até me aborrecer e deixá-las seguir. Entretanto, nestes processos acabei por matar algumas e quando um pequeno senso surgiu no meu cérebro infantil, parei de pegar em insectos. Estava nestes pensamentos quando vi uma pequena formiga preta que parecia patrulhar a passarela sozinha. Normalmente as formigas viajam juntas, não é? Onde estavam as outras companheiras? Então virei-me para a direita, para o cimento, entulho, areia e aço de um local de construção inacabado. Eu senti-me um pouco triste. Seria por causa do céu nublado? Os ocupantes anteriores desta terra agora estéril provavelmente teriam sido esmagados quando as obras começaram sem aviso sobre os seus belos habitats naturais. Certamente não lhes deram um mês com antecedência para desocuparem a área, ao contrário dos humanos. Ninguém estava presente para ouvir o seu choro silencioso quando as suas casas foi destruídas para o lugar ser ocupado por mais um estabelecimento para humanos. Valeria o preço de tantas vidas inocentes? Perguntei-me que grande propósito os prédios serviriam uma vez que estivessem concluídos. Por enquanto foram abandonados e não havia trabalhadores visíveis, estariam numa pausa para almoço? Ou teriam partido devido à chuva recente? Um corvo empoleirado nuns tubos deitou-me um olhar suspeito e virou a cabeça para um dos lados, com um modo invulgar e cómico. Quando os nossos olhares se cruzaram, imediatamente partiu a voar. Compreendo porque estava tão confuso; uma rapariga sentada naquele local fortuito a meio da tarde, sozinha, rabiscando num caderno, não era algo a que estivesse habituado. Mesmo as pessoas que passavam me deitavam olhares curiosos. À minha frente, pude ver alguns estudantes (provavelmente do primeiro ano) no prédio da oficina no final do caminho. Pareciam de saída enquanto davam a um alfaiate as suas medidas para as batas oficinais. Então o telefone começou a vibrar no meu bolso. O alarme soou. Apressando-me a desligar o alarme, percebi com pesar que a minha curta escapadela teria que acabar. Olhei para a minha esquerda mais uma vez enquanto uma brisa suave me beijou o meu rosto e revirou os cabelos. O sol brilhante incidiu nas folhas cintilantes. E percebi que fui, sou e sempre serei, feliz quando estiver com a Natureza.

Era suposto que este fosse um pequeno parágrafo que os alunos da classe de ecocriticismo escreveriam durante a aula, no dia 4 de agosto. Aconteceu ser um longo curto parágrafo! O nosso professor Dr. Rayson K. Alex, distribuiu há dias um conto do grande romancista norte-americano Ernest Hemingway, intitulado “Big Two Hearted River”. Queria que nos inspirássemos nessa história curta e entrássemos na Natureza com o que o nosso campus do BITS (Instituto Birla de Tecnologia e Ciência) é abençoado e escrevêssemos um pequeno parágrafo sobre o que víamos e sentíamos. Tivemos cerca de 25 minutos para completar a tarefa, após os quais devíamos retornar à sala de aula. Ao regressar à aula, ele leu as histórias de alguns alunos e eu senti-me demasiado tímida para lhe dar a ler a minha. Quando a aula terminou e deixei a sala depois de marcar a minha frequência, percebi que queria que ele lesse a minha história que me era tão querida. Nunca ninguém leria este pequeno parágrafo na parte detrás do meu caderno de Ecocriticismo. Por isso, se está a ler isto hoje, é porque pensei “Só Se Vive Uma Vez”, voltei a entrar na sala de aula e pedi ao Dr. Alex que lesse esta pequena parte da minha vida.

*Ms. Quadros Karen Aditi A Sra. Quadros Karen Aditi é estudante de graduação (Bacharel em Tecnologia) no Birla Institute of Technology and Science Pilani, K. K. Birla Goa Campus, Goa, West India.

tradução de ilda teresa de castro

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From Green to Grey: My experience with My Environment

by Quadros Karen Aditi*

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As I set out from my Ecocriticism class in an attempt to write a short paragraph on nature, my mind was racing. Which place would be the most suitable for a short write-up on nature? No, wait, I first need to set an alarm. And so I did. I set an alarm on my phone for 20 minutes from then, to make sure that the forgetful creature that I am, does not get lost somewhere and completely forget to return to class. I hurriedly shoved my phone into my pocket and continued walking along. Now, for some technical details to let you get accustomed to my surroundings. Please bear with me, your patience will be rewarded! My classroom is located in the A-wing of the academic building. The academic block consists of a central dome called the B dome and two wings to its left and right, the A-wing and the C-wing. Each wing has four floors. My classroom is on the third floor. As I hurried down the corridor and climbed down a flight of stairs I noticed that several other students walking in front of me had stopped in the corridors and seemed quite content in staying within the academic building and writing about the trees that they could see in the distance. Being a keen observer and a lover of nature I thought that I should use this opportunity to get as close to nature as I could and put my observational skills to test. I inherently found myself walking towards the open ground near the workshop. The workshop is located behind the A-wing of the academic block. It is a dark and musty old building with two floors housing the Mechanical Department of my college, where senior students create interesting and brilliant metallic and wooden works using various raw material and tools like chisels, metal files, jack saws, hacksaws, sandpaper and machines like the wooden lathe, the metal lathe, the welding station, grinding wheel and the aluminium furnace available there. It would be busy with students during this time of the year, since workshop is one of the compulsory courses everyone has to take in their first year of engineering. Thoughts of how it would be an ideal place for observing nature since it was the rainy season and the fact that it would be brimming with life excited me as I quickened my pace. I went down another flight of stairs and the final stretch to the end of the hallway. Now, there were no students near me. One sharp left turn and voila, the open walkway at the end of which was the workshop! I immediately stopped dead in my tracks. It had been a long time since I had come to the workshop given that I was in my final year of engineering and not a mechanical student, but the place was completely different from the happy bees buzzing, birds singing and leaves rustling scenario that I had in mind. Well, at least my right side was. I pondered over the stark contrast in environments to my left, right and straight ahead. Then a brilliant idea hit me. I should write a paragraph on this scenario, this contrast, instead of going right into the open wilderness on my left. So I sat down on the little ledge projecting from one of the pillars supporting the walkway and opened my notebook, ready to make observations. I gazed to my left at the distant trees as I heard birds chirping, the ground covered with lush green weeds of all kinds still wet from a passing rainfall.

© Quadros Karen Aditi

The birds were cuckoos, I believe. I fondly remembered how fascinated I was when my mother told me that they do not build their own nests, but instead lay their eggs in a crow’s nest, since their eggs look similar to that of the crow’s. By the time the deceit is discovered by the unsuspecting mother crow, when the little ones start their distinct cuckoo call, it is too late; they are big enough to fend for themselves. I chuckled at the thought of a bewildered mother crow wondering what is wrong with her child. What a nightmare! Just then a cool breeze blew in my direction and I smiled as it caressed my face. The weeds gently bowed as though to acknowledge its presence; as they did so, I could hear the crisp sound of leaves rustling in the distance. They appeared to be dancing with joy. I could smell the moist soil, that familiar fresh earthy smell that immediately reminded me of my childhood. Innocent days of happiness for the simplest of reasons. I could picture my sisters and me rushing out of the house to dance and soak ourselves in the rain (much to the dismay of my mother who would yell at us since we could catch a cold). I could smell the “rain-smell” (as I would childishly call it) even before I could hear its humdrum on the rooftops. I pride myself on my keen sense of smell, correctly guessing what my mom has cooked for dinner from a mile away! (Just an exaggeration, the distance that is). I looked up at the cloudy sky and thought that it cast a feeling of gloom upon the whole terrain.

I looked down near my feet and I caught sight of a maroon coloured worm as it wriggled on the stones and broken pottery among the weeds. Its ringed body and a hundred tiny legs actively sensing its environment for any imminent danger while simultaneously trying to find its way as it went back and forth and in circles. Funny little worm I thought, why the weird dance? Perhaps it was searching for food, or maybe it is a paranoid little worm who will be stuck there for a long time. I then noticed a tiny ladybug at the tip of a blade of grass what resembled lemon grass. It was a classic ladybug with a dome shaped body and reddish wings that had black spots. It appeared to be busy as it crawled along on its six short black legs and I felt a rising urge to try and catch it, but just then another gust of breeze blew and I lost sight of it. I remembered that catching bugs and playing with them was one of my favourite childhood pastimes. I had managed to catch two butterflies by stealthily following them around and quickly catching them by the wings when they rested on any flower. Even dragonflies were not spared. My family did not have to worry about annoying moths either since I would run around the whole house trapping them in my palms, proudly showing them to my sisters who would get creeped out and run away from me. After a point of time, moths completely stopped visiting my house. I was pretty disappointed. Then I started playing with black ants. I would carefully pick them up making sure not to hurt them and leave them in my palm. They would desperately try to run away but I would carefully manipulate them into climbing onto my other hand by holding my wrist. And the cycle would repeat until I got bored and let them run along. Though in the process I would end up killing some of them, and so when a little sense dawned upon my childish brain, I stopped catching bugs. Just then I saw a tiny black ant who appeared to be patrolling the walkway all alone. Normally ants travel together, don’t they? Where were its other comrades? I then turned to the right at the concrete, rubble, sand and steel rods of an unfinished construction site. I felt a little sad. Was it because of the overcast sky? The previous occupants of this now barren land would have probably been crushed when work started unannounced on their beautiful natural habitats. They would not have been given a month’s notice to vacate the area unlike humans. No one to hear their silent cry as their home was destroyed to make place for another human establishment. Was it worth the price of so many innocent lives? I wondered what great purpose the buildings would serve once they were completed. For now it was abandoned and there were no workers to be seen, perhaps they had gone on a lunch break? Or did they leave due to the passing rainfall? A crow perched on some pipes there had been giving me suspicious looks as it turned its head to one side in a comical puzzled fashion. When our eyes met it immediately took flight. I do understand why it was so confused; a girl sitting at that random location in the afternoon, all alone, scribbling in her notebook, is not something it was habituated to. Even people who had been passing by were giving me curious glances. Straight ahead of me I could see students (probably in their first year) in the workshop building at the end of the walkway. They appeared to be leaving as they had given their measurements to a tailor for their workshop lab-coats. Just then my phone started vibrating in my pocket. The alarm had set off. Hurrying to dismiss the alarm I realised regretfully that my short little escapade would have to come to an end. I gazed to my left once again as a gentle breeze kissed my face and ruffled through my hair, the sun now shining brightly on the shimmering leaves. I realised that I was, am and will always be happy when I am with nature.

This was supposed to be a short paragraph that the students of ecocriticism class had to write during class hours on the 4th of August. It turned out to be quite a long short paragraph! Our professor, Dr. Rayson K. Alex circulated a short story titled “Big Two Hearted River” by the great American novelist Ernest Hemingway a few days ago. He wanted us to take inspiration from the short story and go into nature that our BITS (Birla Institute of Technology and Science) campus is blessed with and write a short paragraph on what we saw and felt. We were given around 25 minutes to complete the task and had to return to the classroom. On returning to class, he read the stories of a few students and I was too shy to ask him to read mine. When the class was dismissed and I left the room after marking my attendance I realised that I did want him to read the story because it was so dear to me. No one would ever read this little paragraph at the back of my Ecocriticism notebook. So if you are reading this today it is because I thought, “You Only Live Once” and then fumbled back into class and requested Dr. Alex to read into a small part of my life.

*Ms. Quadros Karen Aditi is an undergraduate (Bachelor of Technology) student at Birla Institute of Technology and Science Pilani, K. K. Birla Goa Campus, Goa, West India.

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Arturo, o “animal mais triste do mundo”

a morte de Arturo reacende o debate sobre os jardins zoológicos

por Rafael Speck de Souza*

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A morte do urso polar Arturo, em 3 de julho de 2016, no jardim zoológico de Mendoza, na Argentina, repercutiu na imprensa mundial e reacendeu o debate sobre a obsolescência desses espaços de confinamento e marginalização forçada. A triste vida de Arturo vinha sendo denunciada por diversos ativistas, tornando-se símbolo da luta pela Ética Animal.

Arturo nasceu no Colorado, nos Estados Unidos, em 1986, mas vivia confinado no zoológico de Mendoza, havia duas décadas. Estava a milhares de quilômetros de seu habitat, o Ártico. Em 2012, ele perdeu sua parceira “Pelusa” e entrou em depressão profunda. Havia quatro anos que vivia em absoluta solidão, razão pela qual a imprensa britânica passou a usar o epíteto de “o animal mais triste do mundo” [i].

Até sua morte, Arturo vivia em condições impróprias para sua espécie e precisava suportar temperaturas altíssimas, ao ponto de partes de seu pelo apresentarem queimaduras provocadas pelo Sol. Em 2014, uma petição assinada por mais de um milhão de pessoas reclamava a mudança de Arturo para o Canadá (cujo clima seria mais próximo ao de seu habitat), mas o diretor do zoológico de Mendoza justificou que o urso estava em idade avançada para ser realocado.

O caso Arturo ganhou relevo nos noticiários, mas vale ressaltar que é apenas mais um exemplo entre tantos outros a evidenciar a lógica da dominação humana sobre os animais. Denuncia também outra realidade: a grande maioria dos zoológicos tem péssimas instalações e coloca os animais em situações constantes de estresse e sofrimento.

Destaque-se que a ideia original do jardim zoológico surgiu na Inglaterra, no início do século passado, para exibir seres humanos, especialmente aqueles com deficiência e os de origem diferente. Para os conceitos da época, também era comum e aceitável as visitas a manicómios como forma de diversão. Rapidamente, os humanos perceberam que esse tipo de exposição era uma afronta contra a própria espécie, não sendo apropriado exibir suas deformidades e atrasos, e com o tempo os outros animais substituíram os humanos[ii].

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O crítico de arte e historiador John Berger, em seu livro “Sobre o olhar”, faz a seguinte provocação filosófica: “Por que olhar os animais?”. E adverte que “os animais são sempre os observados”. O fato de que eles podem nos observar perdeu todo o significado. Eles são os objetos de nosso conhecimento sempre crescente. O que sabemos sobre eles é um índice de nosso poder, e assim é um índice do que nos separa deles. Quanto mais sabemos, mais distantes eles ficam[iii].

Os visitantes vêm ao zoológico para olhar os animais, passam de jaula em jaula como visitantes de uma galeria de arte, param na frente de um quadro, depois de outro e outro. Mas no zoológico a visão é sempre errada. Como uma imagem fora de foco. A gente fica tão acostumado a isso que quase nem nota mais. Seja como for que se contemplem esses animais, estaremos olhando algo que se tornou absolutamente marginalizado; e toda a concentração que possamos exercer jamais será suficiente para torná-lo central[iv].

Importante dizer que, uma vez aprisionados e confinados, os animais não humanos (e isso se aplica aos humanos também) são destituídos do senso de provimento que lhes é próprio, restando privados da liberdade de buscar seu “próprio bem” a “seu próprio modo”. A perda da liberdade, para um animal, ameaça sua consciência específica. O confinamento de animais os força a viverem a vida contrariando sua autonomia prática natural, pois os priva do bem próprio da espécie singular de seu viver. O “bem próprio a cada espécie” não pode ser oferecido por ninguém ao animal[v].

Fácil concluir que os animais isolados uns dos outros e sem interação entre as espécies tornam-se totalmente dependentes de seus tratadores. Consequentemente, a maioria de suas reações tende a mudar. O que era central em seu interesse passa a ser substituído por uma espera passiva de uma série de intervenções externas arbitrárias. Os fatos que percebem ao seu redor tornam-se tão ilusórios em termos de suas reações naturais quanto as paisagens pintadas[vi].

Manter um animal não humano em cativeiro e preservar-lhe a integridade de seu espírito específico são coisas, a rigor, irreconciliáveis. Sônia T. Felipe esclarece que o que os zoológicos fazem é procurar a reprodução biológica de espécies ameaçadas de extinção. Mas, quando falamos em preservar espécies não devemos pensar que uma espécie seja constituída apenas por sua bagagem genética. Cada espécie animal precisa de um espírito específico, que permita a preservação daquele tipo de vida de forma autônoma. Isso os zoológicos não podem fazer. No máximo, o que eles preservam, é o banco genético. Ao serem mantidos no cativeiro por tempo muito longo, refiro-me aos indivíduos da primeira geração posta em confinamento, os animais apagam pouco a pouco a memória que constituía seu “espírito” específico. Se duas ou três gerações são mantidas nesse cativeiro, não resta conhecimento algum que permita aos jovens nascidos em confinamento saber interagir no espaço natural e social que seria próprio de sua espécie de vida. Guardamos, assim, o patrimônio genético, que é matéria biológica. Matamos o patrimônio genuinamente “animal” dessas espécies[vii].

O que se pode concluir é que o jardim zoológico é uma demonstração das relações entre homem e animais: nada mais que isso[viii]. No âmago da questão estaria o antropocentrismo, a reforçar a ideia de que os animais são inferiores e destituídos de valor intrínseco. Do contrário, o que justificaria manter animais selvagens em gaiolas e jaulas?

A melhor solução ou “saída” para esse problema ético, como defende o filósofo animalista Tom Regan, consiste em reivindicar “jaulas vazias” (visão abolicionista), e não jaulas maiores para os animais (visão bem-estarista). Para isso, reconhecer que os animais não humanos são seres sencientes e que possuem uma mente específica que precisa ser preservada é fundamental para se pensar e criar empatia para além das fronteiras do humano.

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[1] Morreu o urso mais triste do mundo. Jornal de Notícias, 5 jun. 2016. Disponível em: <http://www.jn.pt/mundo/interior/morreu-o-urso-polar-mais-triste-do-mundo-5266771.html&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[1] CAPUANO, Ricardo Luiz. Zoológicos e animais. Disponível em: <http://www.anda.jor.br/27/08/2014/zoologicos-animais&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[1] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 22.

[1] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 29.

[1] FELIPE, Sônia T. Antropocentrismo, senciocentrismo e biocentrismo: perspectivas ética abolicionistas, bem-estaristas e conservadoras e o estatuto de animais não-humanos. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/PF/article/view/864/1168&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[1] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 31.

[1] Entrevista completa com Sônia T. Felipe. Portal Terra. Disponível em: <http://www.terra.com.br/noticias/ciencia/infograficos/zoos/zoos-02.htm&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[1] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 32.

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*Rafael Speck de Souza é mestrando em Direito, Estado e Sociedade, Linha de Pesquisa “Direito, Meio Ambiente e Ecologia Política”, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. Integrante do Observatório de Justiça Ecológica, grupo de pesquisa certificado pelo CNPq/Brasil. e-mail: rafaelspk@gmail.com.

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The death of Arturo, the “world’s saddest animal” reignites the debate over zoos

by Rafael Speck de Souza*

The death of Arturo, the polar bear, on July 3, 2016, in Mendoza’s town zoo, in Argentina, found an echo in the international press and reignited the debate about the obsolescence of these spaces of confinement and forced marginalization. The sad life of Arturo had been exposed by several activists, becoming a symbol of the fight for Animal Ethics.

Arturo was born in Colorado, US, in 1986, but had been living in confinement in the Mendoza zoo for two decades. He was thousands of miles away from his habitat, the Arctic. In 2012, he lost “Pelusa”, his partner, and fell into a deep depression. He had been living in absolute solitude for four years. That is why the British press had nicknamed him “The world’s saddest animal” .

Until his death, Arturo had been living in dire conditions for his species and had to bear very high temperatures, which had caused him to suffer sunburns. In 2014, a petition signed by more than a million people demanded that Arturo be moved to Canada (which climate would be closer to the one in its habitat), but the director of the zoo of Mendoza explained that the bear’s advanced age would make it impossible for him to be relocated.

Arturo’s story gained support in the news, but it should be noted that his is just another example, among many others, that shows the logic of human domination over animals.   It also exposes another reality: Most of the zoos have terrible facilities and place the animals in situations of constant stress and suffering.

The original idea of the zoo was born in England, at the beginning of last century, to exhibit human beings, especially those with deficiency and of a different origin. In those times, it was also common and acceptable to visit mental hospitals as a form of entertainment. Human beings quickly realized that this type of exposure was an offense to their own species, as it was not appropriate to show one’s deformities and disabilities, and humans were gradually replaced with non-human animals.

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John Berger, art critic and historian, makes the following philosophical remark in his book “About looking”: “Why look at animals?” And warns that “animals are always the ones being observed”. The fact that they can watch us has lost all meaning. They are the object of our ever-growing knowledge. What we know about them is a reference to our power, and thus, it is a reference of what separates us from them. Visitors see the zoo as a place to look at animals. They go from cage to cage, like visitors in an art gallery, they stop at a painting, one after another. But at the zoo, the gaze is always wrong. Like an out-of-focus image. One grows so used to this that we barely notice it anymore. However we look at these animals, we will be looking at something that became absolutely marginalized; and no matter how much concentration we put into it, it will never be sufficient to make it central.

It is worthwhile to mention that, once imprisoned and confined, non-human animals (This also applies to human beings) are removed of their sense of provision which is characteristic to them, remaining deprived of their freedom to search their “own welfare” and “in their own way”. An animal’s loss of freedom threatens its specific consciousness. The confinement of animals forces them to live life against their practical natural autonomy, as it deprives them of the species’ own good, which is unique to their way of life. “Each specie’s own good” cannot be offered by anyone to the animal.

It is easy to conclude that animals, once isolated from each other and without interaction among the species, become completely dependent on their caretakers. Consequently, most of the animal’s reactions tend to change. What was central to their existence is replaced with a passive wait of a series of arbitrary external interventions. The facts that they perceive around themselves become as illusive in terms of their natural reactions as painted landscapes.

To keep a non-human animal in captivity and to preserve the integrity of its specific spirit are, strictly speaking, irreconcilable. Sônia T. Felipe explains that what the zoos do is to try to reproduce endangered species. However, when we talk about preserving species, we should not think that a species is constituted only by its genetic make-up. Each animal species needs a specific spirit, which allows the preservation of that type of life in an independent way. This is something zoos cannot accomplish. At most, what they can preserve is the animal’s gene pool. When they are in captivity for a long time, that is, those from the first generation held in captivity, animals slowly erase the memory that made up their specific “spirit”. If two or three generations are kept in captivity, no knowledge is left to allow the animals born in confinement to learn to interact in the natural and social space, which would be characteristic of its species. Thus, we keep the genetic heritage, which is biological matter. We destroy the genuinely “animal” heritage of these species.

What can be concluded is that the zoo is a demonstration of the relations between humans and animals: No more than that. At the heart of the issue is anthropocentrism, strengthening the idea that animals are inferior and devoid of intrinsic value. What would justify keeping wild animals in cages?

The best solution or “exit” for this ethical problem, as advocated by animalist philosopher, Tom Regan, consists of demanding “empty cages” (abolitionist view), and not bigger cages for the animals (welfarist view). To this end, acknowledging that non-human animals are sentient beings and that they possess a specific mind, which needs to be preserved, is essential to reflect and create empathy beyond the borders of human beings.

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[i] Morreu o urso mais triste do mundo. Jornal de Notícias, 5 jun. 2016. Disponível em: <http://www.jn.pt/mundo/interior/morreu-o-urso-polar-mais-triste-do-mundo-5266771.html&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[ii] CAPUANO, Ricardo Luiz. Zoológicos e animais. Disponível em: <http://www.anda.jor.br/27/08/2014/zoologicos-animais&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[iii] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 22.

[iv] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 29.

[v] FELIPE, Sônia T. Antropocentrismo, senciocentrismo e biocentrismo: perspectivas ética abolicionistas, bem-estaristas e conservadoras e o estatuto de animais não-humanos. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/PF/article/view/864/1168&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[vi] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 31.

[vii] Entrevista completa com Sônia T. Felipe. Portal Terra. Disponível em: <http://www.terra.com.br/noticias/ciencia/infograficos/zoos/zoos-02.htm&gt;. Acesso em: 11 out. 2016.

[viii] BERGER, John. Sobre o olhar. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 32.

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*Rafael Speck de Souza is a Master’s student of Rights, State and Society, Line of Research “Rights, Environment and Political Ecology”, at the Federal University of Santa Catarina (UFSC), Brazil. A member of the Observatory of Ecological Justice, a research group certified by CNPq/Brazil. email: rafaelspk@gmail.com.

Ano III . Número VIII . Inverno 2016-17 . Year III . Number VIII . Winter 2016-17

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A Normalização do Impensável

(26.03.2015)

Mais de uma centena e meia de acadêmicos, intelectuais e escritores, incluindo o Prêmio Nobel JM Coetzee, apoiaram um novo relatório que pede o cancelamento da normalização da experimentação animal. Intitulado “A Normalização do Impensável”, o relatório é o resultado de um trabalho do Centro Oxford para a Ética Animal.

O relatório conclui que “O abuso deliberado e rotineiro de animais sencientes inocentes, envolvendo dano, dor, sofrimento, confinamento stressante, manipulação, comércio e morte deve ser impensável. No entanto, a experimentação animal é apenas isso: a “normalização do impensável”. “Estima-se que 115.300.000 animais são utilizados em experiências em todo o mundo, por ano. Em termos de dano, dor, sofrimento e morte, isto constitui uma das principais questões morais de nosso tempo”.

O grupo de trabalho (composto por 20 líderes, especialistas em ética e cientistas), concluiu que as experiências com animais são moral e cientificamente uma falha. O relatório de mais de 50.000 palavras é provavelmente a crítica mais abrangente de experiências com animais já publicada. Encomendado como revisão ética independente pelo BUAV e Cruelty Free International, os membros do grupo de trabalho fazem questão de salientar que a BUAV em nada influenciou as suas conclusões.

“Os argumentos morais em favor da experimentação animal realmente não valem por si”, diz o professor Andrew Linzey, co-editor do relatório e um teólogo da Universidade de Oxford. “Observámos os argumentos centrais dos relatórios oficiais e encontrámos-lhes falhas. Nos casos em que algum era moralmente válido, também justificaria experiências com seres humanos”.

O relatório conclui que a “normalização” das experiências com animais:

não é sustentável em face do que hoje se sabe sobre a extensão e variedade de como os animais podem ser prejudicados. A questão da complexidade da consciência animal, especialmente a senciência dos animais (a capacidade de sentir dor e prazer), não pode ser ignorada. Ao contrário dos nossos antepassados, sabemos agora, tão razoavelmente quanto podemos saber dos seres humanos, que os animais (nomeadamente, mamíferos, aves e répteis) experienciam não apenas dor mas também choque, medo, pressentimento, trauma, ansiedade, stresse, angústia, antecipação, e terror.

baseia-se na ideia desacreditada de que os animais são apenas ferramentas para uso humano, meios para fins humanos, itens fungíveis e comodidades que podem ser tratadas e dispensadas, consoante o interesse humano.

é desafiada por um novo pensamento moral que sustenta que os seres sencientes não são apenas coisas, objetos, máquinas ou ferramentas, e têm valor em si mesmos e merecem respeito.

é aumentada por uma série de regulamentações e controles que, na realidade, fazem muito pouco para proteger os animais e muitas vezes fazem o inverso.

é justificada pela afirmação tantas vezes repetida de que o interesse humano exige tais experiências, enquanto deve ser questionado se os seres humanos beneficiam do abuso de animais.

BUAV e Cruelty Free CEO International, Michelle Thew, disse: “Congratulamo-nos muito com este novo relatório, que deve impulsionar um novo pensamento ético sobre os animais e questionar alguns dos pressupostos preguiçosos sobre como a pesquisa com animais beneficia os seres humanos. Este relatório independente é um marco no pensamento ético sobre animais e coloca a ética da pesquisa em animais de volta à agenda. “

Os investigadores e académicos são convidados a debater o relatório numa Escola Especial de Verão sobre a Ética do Uso de Animais em Pesquisa na Universidade de Oxford de 26 a 29 julho de 2015.

O relatório completo, o sumário executivo, a lista completa dos signatários e os detalhes sobre a Escola de Verão podem ser encontrados aqui.

Os detalhes sobre a Escola de Verão pode ser encontrada aqui.

O relatório completo pode ser encontrado aqui.

O sumário executivo pode ser encontrada aqui.

A lista completa dos signatários pode ser encontrada aqui.

Para mais informação, contactar Martin Mallon em +44 (0) 20 7619 6978 / +44 (0) 7850 510 955 ou email martin.mallon@buav.org

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Oxford Centre for Animal Ethics

Press Release on Centre´s Report on the Ethics of Animal Experiments de 26.03.2015.

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Normalising the Unthinkable 

(26.03.2015)

More than a hundred and fifty academics, intellectuals, and writers, including Nobel Laureate J. M. Coetzee, have backed a new report calling for the de-normalisation of animal experimentation.  Titled ‘Normalising the Unthinkable’, the report is the result of a working party of the Oxford Centre for Animal Ethics.

The report finds that ‘The deliberate and routine abuse of innocent, sentient animals involving harm, pain, suffering, stressful confinement, manipulation, trade, and death should be unthinkable. Yet animal experimentation is just that: the ‘normalisation of the unthinkable’.  ‘It is estimated that 115.3 million animals are used in experiments worldwide per annum. In terms of harm, pain, suffering, and death, this constitutes one of the major moral issues of our time.’

Comprised of 20 leading ethicists and scientists, the working party concluded that animal experiments are both morally and scientifically flawed. The report of more than 50,000 words is probably the most comprehensive critique of animal experiments ever published.

Commissioned by the BUAV and Cruelty Free International as an independent ethical review, members of the working party are keen to point out that the BUAV in no way influenced its conclusions.

‘The moral arguments in favour of animal testing really don’t hold water’ says Professor Andrew Linzey, co-editor of the report and a theologian at Oxford University.  ‘We have looked at the central arguments in official reports and found them wanting.  If any of them were morally valid, they would also justify experiments on human beings.’

The report concludes that the ‘normalisation’ of animal experiments:

  • flies in the face of what is now known about the extent and range of how animals can be harmed. The issue of the complexity of animal awareness, especially animal sentience (the capacity to experience pain and pleasure), cannot be ignored. Unlike our forebears, we now know, as reasonably as we can know of humans, that animals (notably, mammals, birds, and reptiles) experience not only pain, but also shock, fear, foreboding, trauma, anxiety, stress, distress, anticipation, and terror.
  • is based on the discredited idea that animals are just tools for human use, means to human ends, fungible items, and commodities who can be treated and dispensed with as humans think fit.
  • is challenged by new moral thinking which holds that sentient beings are not just things, objects, machines, or tools, but have value in themselves and deserve respect.
  • is augmented by a range of regulations and controls, which in reality do very little to protect animals and indeed often do the reverse.
  • is justified by the oft-repeated assertion that human interest requires such experiments, whereas it has to be questioned whether humans are ever benefited by the abuse of animals.

BUAV and Cruelty Free International CEO, Michelle Thew, said: “We greatly welcome this new report, which should spur on new ethical thinking about animals and question some of the lazy assumptions about how animal research benefits humans. This independent report is a milestone in ethical thinking about animals and puts the ethics of animal research back on the agenda.”

Academics are invited to debate the report at a special Summer School on the Ethics of Using Animals in Research at Oxford on 26-29 July 2015.  Details about the Summer School can be found here.

The full report can be found here.

The executive summary can be found here.

The full list of signatories can be found here.

ENDS

For further information, please contact Martin Mallon on +44 (0) 20 7619 6978 / +44 (0) 7850 510 955 or email martin.mallon@buav.org

Notes to editors

  • The Oxford Centre for Animal Ethics, founded in 2006 by its director Professor Andrew Linzey, is an independent Centre with the aim of pioneering ethical perspectives on animals through academic research, teaching and publication. The Centre has more than 90 Fellows drawn from a variety of academic disciplines from throughout the world. See www.oxfordanimalethics.com.
  • The Centre is an independent think tank, and is not under the aegis, control, or sanction of the University of Oxford.
  • Founded in 1898, the BUAV is the world’s leading organisation working to create a world where nobody wants or believes we need to experiment on animals.
  • Established by the BUAV, Cruelty Free International is the leading organisation working to end animal testing for consumer products worldwide.

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Oxford Centre for Animal Ethics

Press Release on Centre´s Report on the Ethics of Animal Experiments de 26.03.2015.m

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Direitos dos Animais e do Ambiente – os animais não-humanos e o ambiente, devem (ou podem) ter direitos?

por Pedro Jardim Garcia * .

Na advocacia pela defesa e protecção dos Animais não-humanos e do Ambiente, diariamente se aborda o tema dos “Direitos dos Animais” e a expressão que mais utilizamos é a de “Direitos”. Seja qual for a nossa posição nestas questões éticas e de sustentabilidade, devemos basear o nosso raciocínio e premissas numa forma esclarecida e informada. Importa então desenvolver, de uma forma sucinta e acessível, inteligível, a pergunta base: O que é o Direito? Pergunta fácil, de resposta não tão fácil… Será necessário, em primeiro lugar, entender que a Sociedade Humana se rege por ordens normativas de conduta social, que determinam e pautam os comportamentos colectivos e que são: A Ordem Jurídica; A Ordem do Trato Social; A Ordem Moral; A Ordem Religiosa.

Na maior parte das vezes não temos consciência desta realidade e o dia-a-dia é vivido sem que exista a percepção individual do cumprimento de uma regra, no entanto, lá estão os sistemas de normas a determinar o comportamento colectivo, como por exemplo, quando aguardamos a nossa vez de entrar na fila para o autocarro. Não existe nenhuma norma jurídica que o obrigue mas existe uma norma do trato social que desse modo determina o comportamento correcto em sociedade. Todos (ou quase todos) estamos de acordo com esta norma e a praticamos; indignados reagimos contra os que nos passam à frente na fila, desrespeitando-a − e, assim, reconhecemos a ordem do trato social. Dependendo dos casos e situações em concreto, estas ordens podem encontrar-se ou partilhar “terreno comum”, mas não se confundem. Dediquemo-nos por agora à Ordem Juridica, a ordem normativa-base deste artigo de opinião. É na Ordem Jurídica que encontramos o Direito.

Façamos a importante distinção entre Direito Objectivo e direito subjectivo, uma vez que esta exposição se refere à noção de Direito em sentido Objectivo. Direito em sentido Objectivo será sinónimo de um conjunto de regras, por exemplo, o Direito Comercial regula as relações jurídicas Comerciais – este será o Direito que tem expressão nas normas que regulam as actividades comerciais. Direito em sentido subjectivo será sinónimo de uma situação em concreto: o sócio de uma empresa tem direito a participar nos lucros – este será o Direito relativo ao sujeito do direito, neste caso, o sócio. Então, o que é o Direito? Serão as Leis? Não, não são as Leis. As Leis são a expressão do Direito, e não o Direito em Si mesmo. Será a Justiça? Não, a Justiça corresponderá a conjuntos de valores metafisicos nos quais o Direito se baseia para determinar as suas normas. Então? Em que é que ficamos, se usamos todos os dias e com paixão o termo “Direito”?

Aumentaram-nos os impostos sem avisar?! Não há direito!; Aquele individuo passou à minha frente na fila?! Não há direito!; Mataram o cão à machadada?! Não há direito!

No meio académico ensinam-nos respostas formatadas: “O Direito é uma realidade humana e social”; “Direito é um conjunto de normas que regula o comportamento humano em sociedade”; “Direito é uma ordem imperativa, social e coerciva”; ou seja, para existir Direito, terá de existir o Humano, em Sociedade. O que é o mesmo que considerar que sem sujeito Humano, não existe Direito, e mesmo que exista esse sujeito mas não exista Sociedade, também não existe Direito. (Confesso aqui a minha discordância quanto à necessidade de um elemento antropocêntrico na noção de Direito – que não desenvolverei agora – mas ainda que se aceite como característica essencial inultrapassável, a necessidade da existência do Humano, para a existência do Direito, não poderemos nunca deixar de abranger no “nosso” Direito, os Animais não-humanos e o Ambiente.)

Existem duas correntes de teorização do Direito. O Direito Natural – O Direito existe por si mesmo, é imutável, eterno e geral (jusnaturalismo). O Direito Positivo – O Direito existe quando determinado como tal pelo Humano (juspositivismo). Ambas estas teorias do Direito prevêm a necessidade de existência do Humano, quer como origem (juspositivismo) ou destinatários (jusnaturalismo), da essência do Direito. Exemplificando:

No Direito Natural, o Direito à Vida (que nasce na Ordem Moral) existe, e o Humano e as Sociedades comportam-se como tal, mesmo que tal Direito não esteja contemplado em nenhum texto normativo.

O Direito à Vida existe por si mesmo – nós somos os destinatários de um imperativo normativo, e limitamo-nos a transcrever para a regra social aquilo que já pré-existia: o Direito à Vida. No Direito Positivo, o Direito à Vida existe, contando que “aquela” sociedade, “naquele” momento o estabeleça como norma juridica. Caso nada haja a estabelecê-lo, e a Sociedade não o reconheça, o Direito à Vida não existirá – nós somos a origem dos imperativos normativos, e o Direito à Vida, só existe porque assim o transcrevemos como regra social.

Compreendemos agora a noção de Direito, de uma forma um pouco mais esclarecida. Então, porque motivo devemos defender que os Animais não-humanos e o Ambiente têm (ou devem ter) Direitos? Seja-se um jusnaturalista ou um juspositivista, temos de concluir que os Animais não-humanos e o Ambiente deverão ser englobados no “nosso” Direito, e que são sujeitos de Direito que merecem nada mais que a nossa protecção e cuidado, não devendo ser sujeitos de propriedade e exploração pelo Human, seja para que fim fôr.

O termo “Direito”, provém da palavra latina directum, que significa recto, o mais certo, o mais correto, o mais justo. Sendo o Humano, um ser natural, mas também um ser ético e moral, é intrínseco à natureza humana procurar atingir o mais certo, o mais correcto, o mais justo – evoluir natural e socialmente. Se assim não fosse, não condenaríamos o criminoso, nem sequer teriamos uma noção de crime, certo? Os Animais não-humanos e o Ambiente devem ser sujeitos de direito, devido aos deveres de cuidado e protecção que impendem sobre o ser humano, sobre a nossa existência fisica, ética e moral, na nossa relação com aqueles.

Coexistimos num ecosistema natural, no qual estamos dependentes para garantir a nossa própria sobrevivência enquanto espécie, e como tal, não podemos explorar e tratar a Natureza como uma “coisa”, mas sim como sujeito de Direito – pois somos seus descendentes, tal como os animais não-humanos, tal como o Ambiente. Violar a Natureza, o Ambiente e o Direito dos Animais não-humanos à Vida, para a satisfação das nossas frívolas vontades e caprichos, tais como a moda ou o paladar, é violarmos as nossas próprias premissas de sobrevivência enquanto espécie, logo, a violação da Vida de um Animal não-humano para a satisfação do paladar, a violação de um ecosistema para a satisfação dos nossos excessos, é um crime contra a humanidade. O Direito deve ser base de Justiça, Ética e Moralidade nas nossas decisões e comportamentos, e não base de justificação para a exploração da crueldade e sofrimento desnecessário de terceiros, pois que tal não será recto, não será certo, não será correcto, não será justo.

Enquanto seres humanos, somos animais naturais, sociais e morais. Como animais naturais, estamos profundamente ligados à Natureza: por mais distantes que nos tentemos colocar, teremos sempre a necessidade de respirar oxigénio, de apanhar sol, de nos alimentarmos, de estarmos num meio ambiente acolhedor e confortável para o nosso corpo. Enquanto animais sociais, temos a necessidade de nos organizar em núcleos familiares, de criar relações de amizade e até estruturas hierárquicas profissionais e políticas. No fundo, de termos uma organização que nos permita viver em segurança e livres do risco de violação das nossas liberdades individuais – em suma, que nos permita “andar à vontade” na rua. E como animais morais, temos um imperativo de consciência, racionalidade e inteligência de nos comportarmos de forma justa e correcta, de procurar o Bem, tanto para connosco, como para com terceiros.

Ora, se somos inevitávelmente animais naturais, sociais e morais, todas estas características se encontram presentes e determinam os nossos comportamentos enquanto seres individuais e colectivos – e assim, conseguimos distinguir entre o Bem e o Mal, entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto – pelo que qualquer ser humano normal, sem desvios de comportamento, concordará com a premissa: É errado provocar sofrimento desnecessário a terceiros. Como já verificado, fazemos parte da Natureza, tal como outras espécies não-humanas, logo, teremos de considerar “terceiros com capacidade de sofrimento”, todos os seres vivos sencientes que connosco partilham as mesmas características fisicas e psicológicas, tais como: olhos para ver, ouvidos para ouvir, pernas para correr, asas para voar, guelras ou pulmões para respirar, ter um sistema nervoso central para receber estímulos externos e um cérebro para processar o prazer, a dor, o pensamento, os desejos de viver e de viver em conforto e felicidade. Tal como o animal humano, também os animais não-humanos procuram o conforto, fogem da dor, e procuram defender-se de agressões à sua integridade fisica e à sua Vida. São, portanto, terceiros com capacidade de sofrimento e, como tal, devem estar incorporados no Direito, nomeadamente no Direito à Vida, à protecção da sua integridade fisica, e à verificação dos Deveres dos animais humanos em tratar com respeito e dignidade os animais não-humanos.

Os mais fortes devem proteger os mais fracos! Assim concordarão também todos os seres humanos normais e sem desvios de comportamento. É Dever do ser humano, proteger e cuidar dos mais fracos, sejam outros animais humanos, animais não-humanos, ou o Ambiente. Enquanto espécie estamos sujeitos às Leis Naturais. Mas estamos também sujeitos à Justiça, Ética e Moral. Devemos evoluir, e o Direito é a expressão da nossa evolução. Como tal, o Direito deve exprimir as nossas normas imperativas éticas e morais, regulando jurídicamente o Direito à Vida dos Animais não-humanos e o Direito do Ambiente em ser protegido de sofrimento e agressões desnecessárias. E como é que isto poderá acontecer? Como é que poderemos colocar o Direito a regular estas normativas jurídicas fundamentais? Somente através do comportamento das pessoas, pois o Direito é determinado pelo comportamento da Sociedade, como tal, temos todos e cada um o dever de nos comportarmos em conformidade com o Direito à Vida dos Animais não-humanos e em conformidade com o Direito do Ambiente em ser protegido, tanto para nossa protecção como para protecção deles, pois somos todos animais naturais integrados na Natureza e dela dependentes.

Numa próxima edição, exploraremos o impacto do comportamento individual de cada ser humano como agente económico, na construção dos Direitos dos Animais e do Ambiente.

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Animal and Environmental Rights

Should (or can they) nonhuman animals and the environment have Rights?

by Pedro Jardim Garcia * .

Advocating for environmental and nonhuman animal rights, we daily In advocacy for the defense and protection of non – human animals and the environment, we daily speak of “Animal Rights”, and the expression that has more use is that of “Rights”. Whatever our position in these ethical and sustainability issues is, we must base our thinking and assumptions of an enlightened and informed manner. It’s then important to develop a succinct and accessible, intelligible form, for the base question: What is the Law (What are Rights)? Easy question, although the answer is not so easy… It will be necessary first to understand that the Human Society is governed by normative social behavior orders, which determine and guide the collective behavior, which are: The Legal Order; The Social Order of Behavior Intercourse; The Moral Order; The Religious Order.

In most cases, we are unaware of this reality, and the day-to-day life is lived without there being individual perception of compliance with a rule, but however, there are systems of rules to determine the collective behavior, for example, when we await our turn to get in line for the bus. No rule of law thus obliges us there, but there is a norm of social intercourse which thus determines the correct behavior on society. All (or almost all) are in accordance with this standard, and so we practice it, and we are outraged and react against those people who are ahead in the queue, disregarding this rule the order of social intercourse – thus recognizing it. Depending on the cases and situations in concrete, these orders may find themselves or share “common grounds”, but they are not confusable.

Let’s dedicate ourselves for now to the legal order, the order normative base in this opinion piece. Is in the Legal Order that we find Law, Rights.

Let us make the important distinction between Objective and subjective Rights, since this exhibition opinion refers to the notion of law in the Objective sense. Objective will be Rights in the sense synonymous with a set of rules, for example: – the Commercial Law regulates legal relations Business – will Law which finds expression in the rules governing commercial activities. Right in the subjective sense is synonymous with a specific situation: – the partner of a company is entitled to participate in profits – will be right on the subject of law, in this case the partner. So what is the Law, what are Rights? Are the Laws (Bills)? No, not the laws. Bills are the expression of the law, not the law in itself. Is the Justice? No, Justice will correspond to sets of metaphysical values on which the law is based to determine their standards. So? Where do we get if we use every day with passion and the term “Right”?

They raised out taxes with no warning?! They have no Right!; That man passed me in the queue?! He has no Right!; The dog was killed with an axe?! There is no Right!

Scholars teach us formatted responses: “The law is a human and social reality”; “Law is a set of rules governing human behavior in society”; “Law is an imperative and coercive social order”; i.e., Right to exist, there must be the Human in Society. That is considering that no Human, no law, and even if there were Human, but no society, there is also no law. (I confess here my disagreement on the need for an anthropocentric element in the notion of law – not that I will develop now – but even if accepted as essential feature unsurpassed, the necessity of Human ‘s existence, the existence of the law, we can never leave cover in “our” law, non – human animals and the environment.)

There are two streams of theorizing the law. The Natural Law – The Law exists in itself, is immutable, eternal and general (Natural law). The positive law – The law exists when determined as such by Human (Positivism law). Both of these theories of law provide for the needs of human existence, either as origin (positivism law) or recipients (natural law), the essence of law. For example:

In Natural Law, the Right to Life (which originates in Moral Order) exists, and the Human and Societies behave as such, even if that law is not addressed in any normative text. The Right to Life exists by itself – we are the recipients of a normative imperative, and we simply transcribe for social rule that which already pre-existed: the Right to Life. In positive law, the right to life, provided that it “that” society, “that” moment as the legal standard set. If there is nothing to establish it, and Society does not recognize the right to life, it does not exist – we are the source of normative imperatives, and the Right to Life , only exists because so transcribed as a social rule.

We now understand the notion of law (Rights), and we are a somewhat more enlightened. So why reason we argue that nonhuman animals and the environment have (or should have) Rights? Be we a natural law side defender, or a positivist law side defender, we have to conclude that nonhuman animals and the environment should be encompassed in “our” law and that are subject of law that deserve nothing but our protection and care and should not be subjects of ownership and exploitation by Human, for any purpose whatsoever.

The term “law” comes from the Latin word directum, which means straight, the more right, more correct, more fair. Being Human, a natural being, but also an ethical and moral being, is intrinsic to human nature seek to achieve the most right, the most correct, the fairest – evolve naturally and socially. If this were not so, we would judge not the criminal, we would have not even a notion of crime, right? Nonhuman Animals and the Environment should be subjects of rights due to the duties of care and protection imposed on human beings, about our physical existence, ethics and morality in our relationship with those.

Coexist in a natural ecosystem in which we are dependent to ensure our own survival as a species, and as such, we cannot explore and treat nature as a “thing”, but as subjects of law – as we are their descendants, such as nonhuman animals, such as the Environment. Violating Nature, the Environment and the Right of Nonhuman Animals to Life, to the satisfaction of our frivolous whims and caprices, such as fashion or taste, is violating our own assumptions of survival as a species, so the violation of nonhuman lifes to the satisfaction of our palate, or the violation of an ecosystem to the satisfaction of our excesses, is a crime against humanity. Law should be based on justice, ethics and morality in our decisions and behavior, and not based justification for the exploitation of cruelty and unnecessary suffering of others, since it not right, it is not correct, it is not fair.

As human beings, we are natural, social and moral animals. As natural animals, are deeply connected to nature: as far as we try to put us, we will always have the need to breathe oxygen, sunbathing, to feed ourselves, we are in an environment warm and comfortable environment for our body. As social animals, we need to organize ourselves in households, creating friendships and even professionals and hierarchical political structures. Basically, we have an organization that allows us to live in safety and free from the risk of violation of our individual liberties – in short, that allows us to walk “free and at will” on the street. And as moral animals, have an imperative of conscience, rationality and intelligence to behave fairly and correctly, to seek Good, so much for us, as to third parties.

 Now if we are inevitably natural, social and moral animals, all these features are present and determine our behaviors as individual and collective beings – and so we can distinguish between good and evil, between right and wrong, between the fair and the unjust – so any normal human being without deviant behavior, agree with the premise: It is wrong to cause unnecessary suffering on others. As already noted, we are part of Nature, as other nonhuman species, so we have to consider “parties with capacity for suffering” all sentient living beings that share with us the same physical and psychological characteristics, such as eyes to see, ears to hear, legs to run, wings to fly, gills or lungs to breathe, have a central nervous system to receive external stimuli and a brain to process pleasure, pain, to thought, to desire to live and to live in comfort and happiness. As the human animal, even nonhuman animals seek comfort, fleeing from pain, and seek to defend themselves from attacks on their physical integrity and their life. They are therefore parties with a capacity for suffering, and as such, should be incorporated in the law, particularly under the right to life, the protection of their physical integrity, and verification of the Duties of humans to treat nonhuman animals with respect and dignity.  The strongest should protect the weak! So also agree all normal and without deviant behavior human beings. Duty is what human beings have, to protect and care for the weak, be they other human animals, nonhuman animals, or the environment. As a species we are subjected to natural laws. But we are also subjected to Justice, Ethics and Morals. We must evolve, and the law is the expression of our evolution. As such, the law should reflect our ethical and moral imperative norms, legally regulating the Right to Life of nonhuman animals and Environmental Law to be protected from unnecessary suffering and aggression. And how can this happen? How can we put the law to regulate these fundamental legal rules? Only through people’s behavior, because the law is determined by the performance of Society, as such, we have each and every one the duty to behave in accordance with the Right to Life of nonhuman animals and in accordance with the Environmental Law to be protected, both for our protection and for their protection, as we are all natural beings integrated in nature and dependent on it.

In the next edition, we will explore the impact of individual behavior of each human being as an economic agent, in the construction of Animal Rights and of the Environment.

* Pedro Jardim Garcia –  Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Year I . Number IV . November . Ano I . Número IV . Novembro 2014

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A Casa dos Animais de Lisboa e a Lei

Conversa com Inês de Sousa Real*, provedora da Casa dos Animais de Lisboa por A. Mayor* e Ilda Teresa de Castro

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© Ilda Teresa Castro

.Com a inauguração da Casa dos Animais de Lisboa, no passado dia 28 de julho de 2014, foi nomeada Provedora Municipal dos Animais de Lisboa, cargo com tomada de posse prevista para Setembro de 2014. Qual o seu papel neste cargo?

O Provedor Municipal dos Animais de Lisboa tem por missão garantir a defesa e prossecução dos direitos e interesses dos animais de Lisboa, se necessário, perante os órgãos municipais, os serviços municipais e as empresas municipais de Lisboa. Para esse efeito, são-lhe atribuídas competências, tais como emitir pareceres e recomendações por sua iniciativa ou a pedido do executivo camarário, receber queixas e reclamações dos munícipes relativamente a situações em que possam estar em causa os interesses legítimos dos animais de Lisboa, e encaminhar para as entidades públicas competentes, prestar informações, constituir grupos de trabalho, gerir o grupo de voluntários, entre outras funções, tendo sempre por base a missão que lhe é confiada.

O cargo de Provedor Municipal dos Animais é exercido gratuitamente, e goza de independência, autonomia e imparcialidade face aos órgãos municipais, partidos políticos ou movimentos de cidadãos. Apesar de não ter poder decisório, a sua missão deve ser exercida em estreita colaboração com os movimentos de cidadãos ou associações cujos fins sejam os da prossecução dos interesses e protecção dos animais e que actuem no município de Lisboa, bem assim como com os demais orgãos municipais .

A sobrepopulação de cães e gatos é um flagelo avassalador no nosso país e o concelho de Lisboa não é excepção. O Estado português tem-se demitido sistematicamente de aplicar métodos eficazes e eticamente aceites, na resolução deste problema, insistindo no ineficaz (e imoral) extermínio, em detrimento da esterilização. Para quando está previsto e de que forma será desenvolvido, um plano de esterilização abrangente, para os animais do concelho de Lisboa?

Pelo que tomei conhecimento na inauguração da Casa dos Animais de Lisboa, foram celebrados protocolos nesse mesmo dia com diferentes entidades, que têm em vista contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos animais da CAL e também para a própria gestão e esterilização das colónias de gatos numa política de não abate no município. São exemplo, os protocolos celebrados com as Faculdades de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa e Universidade Lusófona, e com a Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais. Na página internet da Câmara Municipal e da Casa dos Animais de Lisboa é acessível o programa CER – “Capturar, Esterilizar e Recolocar”, relativo à gestão e esterilização das colónias de gatos.

Em relação à política municipal, só a partir da tomada de posse poderei inteirar-me plenamente da mesma, apenas posso adiantar o transmitido pelo executivo na inauguração da CAL: que serão dados passos efetivos nesse sentido e no de apoiar, promover e recomendar, todas as iniciativas que promovam uma política eficaz de controlo da sobrepopulação animal através da esterilização.

De que forma pretende envolver a população nesta nova abordagem, em particular, os caçadores e os criadores, tão habituados ao descarte inconsequente dos animais e pouco receptivos à esterilização?

É fundamental a promoção de acções de sensibilização, seja da sociedade civil em geral, seja das entidades institucionais com poder fiscalizador. Só educando e sensibilizando é que vamos mudar a mentalidade das pessoas, mas temos de envolver todos os agentes neste processo e espero contar com a melhor colaboração de todos, para que pelo menos Lisboa, enquanto capital, se torne uma cidade modelo no que respeita à salvaguarda do bem-estar animal. E quero acreditar que teremos todas as condições para isso.

Parece-me que existe também muita falta de informação: apesar de a lei portuguesa não ser perfeita, ela não é inexistente. Detemos já algumas ferramentas, que estatuam regras para a detenção e bem-estar, sobretudo no que respeita aos animais de companhia. É necessário fazer chegar ao conhecimento das pessoas essa informação: a pessoa que detêm um animal têm um dever de cuidado para com o mesmo. Existem situações flagrantes que decorrem à vista de todos, como o caso dos animais acorrentados. É errado ter um cão acorrentado o dia inteiro, sem água, comida e afecto. É necessário explicar que não só é errado moralmente, como também legalmente tal não é permitido [1].

Quanto à questão da caça e da criação de animais, a verdade é que estas actividades, assim como a criação ou o uso de animais para lutas, são possivelmente das franjas da sociedade mais difíceis de sensibilizar. Por isso, vai ser um desafio acrescido. E, infelizmente, são muitos os casos de animais que chegam aos canis municipais em situações de extrema negligência − em enorme sofrimento e muitas vezes, já entre a vida e a morte − quer porque foram utilizados como reprodutores a vida inteira, quer porque deixaram de ser considerados “úteis” para a caça ou porque foram utilizados como “iscos” para lutas. Portanto, temos aqui um grande trabalho a fazer, que é o de despertar a consciência e a sensibilidade desta população para o facto de que estamos perante seres vivos, dotados de sensibilidade, que sentem dor, stress, medo e ansiedade, tal como os seres humanos, e que têm direito a um trato condigno, adequado à sua natureza.

E não nos podemos demitir de atuar preventivamente, quer através do contacto direito com a população, seja através de ações de esclarecimento e formação, quer através das próprias entidades fiscalizadoras, que podem ter um papel importantíssimo na abordagem destas pessoas: na verificação de se possuem todos os documentos do animal, se estão preenchidas as condições de alojamento adequadas e se o próprio animal têm os cuidados de saúde, alimentação, abeberamento e alojamento adequados. A verdade é que há muito trabalho a ser feito neste campo mas penso que a educação pode ser a nossa melhor “arma” para mudar o modo como tratamos os animais.

A partir de agora e considerando a nova abordagem, os animais da CAL serão entregues para adoção já esterilizados (machos e fêmeas)?

Essa será uma das primeiras questões que irei colocar após a tomada de posse. É recomendável que qualquer animal entregue para adopção seja esterilizado, ou que, caso não tenha idade para o ser, o adoptante assine um termo ou uma declaração comprometendo-se com a esterilização assim que o animal tenha idade para o efeito − com comprovação posterior. Deve haver um acompanhamento após a adopção de qualquer animal − através do Grupo de Voluntários ou das associações que estabeleçam protocolos com a CAL − que nos assegure que o processo de adopção foi bem sucedido e a esterilização realizada.

Com que expectativa encara o projeto de lei aprovado no passado 25 de Julho[2], que visa criminalizar os maus tratos a animais de companhia e o seu abandono, bem como proceder ao alargamento dos direitos conferidos às associações zoófilas legalmente constituídas, equiparando-as às associações ambientais?

Apesar de considerar que Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer a este respeito, foi sem dúvida um passo legislativo histórico. Face a esta alteração ao Código Penal, os maus tratos a animais de companhia deixam de ser punidos como crime de dano (regime aplicável quando se destrói a “coisa” de outrem) e passaram a ser punidos pelo sofrimento directamente infligido ao animal e pelo seu legitimo interesse em não sofrer, reconhecendo assim subsequentemente o seu valor intrínseco. Esta é uma mudança de paradigma muito importante. Para além do valor moral que é reconhecido aos animais, situações que antes não eram punidas, certamente agora passarão a sê-lo. Veja-se por exemplo que, anteriormente, os casos de maus tratos praticados pelos próprios detentores ou proprietários, não preenchiam todos os elementos tipo da norma prevista para o crime de dano no artigo 212.º do Código Penal e, por isso, não eram criminalmente punidos. Com a aprovação deste Projeto de Lei foi introduzido um aditamento ao Código Penal de um título “VI – Dos crimes contra animais de companhia” e dos artigos 387.º a 389.º criminalizando os maus tratos e o abandono a animais de companhia, que estabelece o seguinte:

“Artigo 387.º 
Maus tratos a animais de companhia

1-  Quem, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos a um animal de companhia é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias.

2-  Se dos factos previstos no número anterior resultar a morte do animal, a privação de importante órgão ou membro ou a afetação grave e permanente da sua capacidade de locomoção, o agente é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias. “


Artigo 388.º 
Abandono de animais de companhia.

Quem, tendo o dever de guardar, vigiar ou assistir animal de companhia, o abandonar, pondo desse modo em perigo a sua alimentação e a prestação de cuidados que lhe são devidos, é punido com pena de prisão até seis meses ou com pena de multa até 60 dias.”

De fora ficaram, incompreensivelmente, os demais animais sencientes…

Sim, é uma incongruência registada pelos pareceres do Conselho Superior de Magistratura. Não se compreende o aditamento ao n.º 2 ao artigo 389.º que determina que o conceito de animal de companhia não se aplica aos maus tratos praticados contra animais usados para fins de exploração agrícola, pecuária ou agro-industrial, assim como não se aplica a factos relacionados com a utilização de animais para fins de espectáculo comercial ou outros fins legalmente previstos. Um porco, uma vaca, um cavalo, são animais sencientes (e veja-se a este propósito quer a Declaração de Cambridge sobre a senciência animal[3], quer o artigo 13.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia[4]), tal como um cão, um gato ou um hamster. Maltratado é sempre maltratado. Existem normas comunitárias que obrigam a que os animais sejam tratados condignamente nas explorações pecuárias e que não lhes seja infligido sofrimento.

Relativamente à distinção entre estes regimes jurídicos, note-se que contrariamente ao crime de dano que depende de queixa, os crimes praticados contra um animal de companhia não dependem de queixa, ou seja, qualquer pessoa ou entidade legalmente constituída pode denunciar junto de uma autoridade policial para que actue face a uma situação que configure o disposto nos artigo 387.º ou 389.º. do Código Penal. Acredito que esta alteração legislativa vai ter sobretudo um grande impacto preventivo. E mesmo que se afigure necessário julgar estes casos, veja-se que em alguns casos de crime de dano, muitos juízes censuravam já a crueldade exercida contra os animais. Por isso, creio que a própria magistratura, à semelhança do que aconteceu já no direito comparado, está preparada para acompanhar esta evolução e censura que a sociedade exige há muito.

Paralelamente, quais as repercussões expectáveis pelo alargamento dos direitos às associações, equiparando-as a ONG’s ambientais com a alteração da Lei n.º 92/95, de 12 de Setembro?

A alteração à Lei n.º 92/95, de 12 de Setembro, através do alargamento dos direitos das associações, equiparando-as a ONG’s ambientais foi muito importante. Vem dotar estas associações das ferramentas necessárias − e que uma alteração penal desta natureza carecia − por forma a permitir que continuem a acompanhar e colaborar com os entes do estado, tal como têm vindo a desempenhar já há largos anos com uma utilidade e mérito públicos de reconhecimento e importância inegáveis.

No mesmo dia em que Portugal aprovou o projeto lei que visa criminalizar os maus tratos a animais de companhia, a Bélgica determinou para cada um dos seus três estados federais (Flandres, Valónia e Bruxelas) um ministro de bem-estar animal. Quer comentar?

A nossa vizinha Espanha, já desde 1995 criminaliza os maus tratos a animais de companhia, tendo nas sucessivas alterações ao Código Penal alargado o âmbito dos animais abrangidos pela norma. Em alguns países, como a Alemanha, os animais gozam inclusivamente de protecção constitucional, passo esse que defendo que seria essencial também em Portugal. Apesar das muitas expectativas que tenho, tenho também o anseio de que todas as demais alterações jurídicas que se impõem se concretizem. Mas demos, sem dúvida, um dos primeiros grandes passos que o progresso civilizacional impunha ao legislador português.

No caso belga, estes ministros não acumulam esta competência com competências no domínio da agricultura, por entender-se que existe incompatibilidade entre esse domínio e os interesses dos animais.

O caso da Bélgica é um bom exemplo de que a tutela do bem estar animal não deve estar sob quem detém a mesma competência para a produção alimentar. Ainda que tenha poderes de fiscalização ao nível higio-sanitário ou de saúde humana ou animal, o ponto de vista é sempre antropocêntrico e raramente a legislação é feita ou a decisão é tomada a pensar no impacto que tem na vida do animal. Por isso, existem sempre interesses conflituantes. Veja-se que em Portugal temos o Ministério da Agricultura e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, que detém competência para ambas as matérias. E o que é que vai pesar mais na balança? Os interesses económicos dos produtores e/ou detentores dos animais, ou os direitos e interesses legítimos dos animais?

Penso que seria perfeitamente possível que em Portugal passasse a haver um organismo, dotado de plena autonomia e independência, que estivesse única e exclusivamente concentrado na salvaguarda dos direitos e interesses legítimos dos animais, o que passaria inclusivamente por transferir a competência que actualmente pertence à DGAV − para tramitar os processos por contraordenação − para uma direcção que surgisse deste Ministério, sempre que esteja em causa o bem-estar animal. São muitas as medidas legislativas, administrativas e orgânicas que temos de fazer para que a protecção animal assuma uma maior eficácia em Portugal e podemos aprender muito com os passos que já foram dados no direito comparado.

notas:

[1] Veja-se a este propósito o DL n.º 276/2001, de 17 de Outubro, na redacção que lhe é conferida pelo DL n.º 260/2012, de 12 de Dezembro, que estabelece as normas legais tendentes a pôr em aplicação em Portugal a Convenção Europeia para a Protecção dos Animais de Companhia e um regime especial para a detenção de animais potencialmente perigosos.

[2] Documento final aprovado disponível para consulta em [http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c3246795a5868774d546f334e7a67774c336470

626d526c59334a6c6447397a4c31684a5353396b5a574d794e6a597457456c4a4c6d5276

59773d3d&fich=dec266-XII.doc&Inline=true], acessível 8.08.2014.

[3] Documento disponível para consulta em: [http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf], acessível 8.08.2014.

[4] “ Na definição e aplicação das políticas da União nos domínios da agricultura, da pesca, dos transportes, do mercado interno, da investigação e desenvolvimento tecnológico e do espaço, a União e os Estados–Membros terão plenamente em conta as exigências em matéria de bem-estar dos animais, enquanto seres sensíveis, respeitando simultaneamente as disposições legislativas e administrativas e os costumes dos Estados-Membros, nomeadamente em matéria de ritos religiosos, tradições culturais e património regional.”(Artigo 13.º do TFUE, Jornal Oficial da União Europeia, C 115/47, de 09.05.2008)

* Inês de Sousa Real (n.1977), jurista, elabora a tese de mestrado “O Tratamento Legal dos Animais em Portugal”, em Direito Animal e Sociedade, Universidade Autónoma de Barcelona. Co-fundadora e membro da Comissão Diretiva da Jus Animalium – Associação de Direito Animal. . * A. Mayor, Faculdade de Letras da Universidade  de Lisboa.

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nova legislação animal em Portugal / new animal legislation in Portugal

Year I . Number III . August Ano I . Número III . Agosto 2014

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As mais recentes descobertas nas neurociências cognitivas e na pesquisa científica etológica convocam uma nova atitude perante a condição animal.

A “Cambridge Declaration on Consciousness in Non-Human Animals”, proclamada em 7 Julho de 2012, na First Annual Francis Crick Memorial Conference, reconhece “consciência em animais humanos e não-humanos”

A declaração foi escrita por Philip Low, editada por Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edelman, Bruno Van Swinderen, Philip Low e Christof Koch, e assinada pelos participantes na presença de Stephen Hawking, no Churchill College, University of Cambridge.

Declaração de Cambridge sobre a Consciência

Neste dia, de 7 de julho de 2012, um proeminente grupo internacional de neurocientistas cognitivos, neurofarmacologistas, neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais, reuniu na Universidade de Cambridge para reavaliar os substratos neurobiológicos da experiência consciente e os comportamentos relacionados em animais humanos e não-humanos. Embora a investigação comparativa sobre este tema seja naturalmente prejudicada pela incapacidade dos animais não-humanos, e muitas vezes humanos, em comunicar de forma clara os seus estados internos, as seguintes observações podem ser afirmadas de forma inequívoca :

— o campo de pesquisa da consciência está em rápida evolução. Foram desenvolvidas em larga escala novas técnicas e estratégias na pesquisa animal humana e não- humana. Consequentemente, os novos dados que se têm tornando disponíveis exigem uma reavaliação periódica de preconceitos anteriormente detidos neste domínio. Os estudos sobre os animais não-humanos têm demonstrado que os circuitos cerebrais homólogos correlacionados com a experiência consciente e a percepção pode ser facilitados seletivamente e interrompidos para avaliar se são de fato necessários para essas experiências. Além disso, novas técnicas não invasivas estão disponíveis para humanos, com vista ao levantamento dos correlatos da consciência.

— os substratos neurais das emoções não parecem limitar-se a estruturas corticais . Na verdade, as redes neurais subcorticais activadas durante os estados afetivos em humanos são também extremamente importantes para a geração de comportamentos emocionais em animais. A excitação artificial das mesmas regiões do cérebro gera comportamento correspondente e estados de sentimento em ambos: seres humanos e animais não-humanos. Onde quer que no cérebro se evoquem comportamentos emocionais instintivos em animais não-humanos, muitos dos comportamentos que se seguem são consistentes com estados de experiência de sentimentos, incluindo os estados internos de gratificação e punição. A estimulação cerebral profunda desses sistemas em seres humanos também podem gerar estados afetivos semelhantes. Os sistemas associados aos afectos estão concentrados em regiões subcorticais onde as homologias neurais abundam. Os animais jovens humanos e não-humanos sem neocórtices mantêm essas funções cérebro-mente . Além disso, os circuitos neurais que suportam estados comportamentais/eletrofisiológico de atenção, sono e tomada de decisões, parecem ter surgido tão cedo na evolução quanto a radiação de invertebrados, sendo evidente em insetos e moluscos cefalópodes ( ex., o polvo) .

— os pássaros no seu comportamento neurofisiológico e neuroanatómico parecem oferecer um caso notável de evolução paralela da consciência. A evidência de níveis de consciência semelhantes à humana tem sido observada de forma mais dramática nos papagaios cinzentos africanos. As redes emocionais e os microcircuitos cognitivos dos mamíferos e das aves parecem ser muito mais homólogos do que se pensava anteriormente. Além disso, foi descoberto que certas espécies de aves exibem padrões de sono neurais semelhantes aos dos mamíferos, incluindo o sono REM e, como foi demonstrado em tentilhões-zebra, padrões neurofisiológicos que previamente se pensou exigirem um neocórtex de mamíferos. Magpies em particular, têm apresentado semelhanças com os seres humanos, os grandes macacos, golfinhos e elefantes em estudos de auto – reconhecimento e espelho.

— nos seres humanos, o efeito de determinados alucinogéneos parece estar associado com uma perturbação do feed-foward cortical e processamento de feedback . As intervenções farmacológicas com compostos com reconhecida capacidade na alteração do comportamento consciente de humanos pode conduzir a perturbações semelhantes no comportamento de animais não- humanos. Nos humanos, há evidências que sugerem que a consciência está relacionada com a atividade cortical, o que não exclui possíveis contribuições do processamento subcortical ou cortical, como na consciência visual. A prova de que os sentimentos emocionais em animais humanos e não-humanos surgem de redes cerebrais subcorticais homólogas, fornecem evidências convincentes para a partilha evolucionária da qualia afectiva primitiva.

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Declaramos o seguinte: “A ausência de um neocórtex não parece impedir um organismo de experimentar estados afectivos. A evidência convergente indica que os animais não- humanos têm os substratos neuroanatómicos , neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Por conseguinte, o peso da evidência indica que os humanos não são os únicos que possuem os substratos neurológicas que geram consciência. Os animais não- humanos, incluindo todos os mamíferos e aves, e muitas outras criaturas , incluindo polvos, também possuem estes substratos neurológicos.”

conferência

Christof Koch (director científico) do Allen Institute of Brain Science durante a proclamação da declaração em 7 de Julho de 2012, na First Annual Francis Crick Memorial Conference que decorreu no Churchill College, Universidade de Cambridge, comenta:

“Talvez a visão mais surpreendente que saiu dos últimos 20 anos de investigação académica sobre a natureza da consciência é que ela pode ser muito mais amplamente compartilhada entre todos os filhos da Natureza do que a maioria de nós pensa. Por consciência, quero dizer a capacidade de sentir algo, qualquer coisa — seja a sensação de um céu azul, uma dor de dentes, o sentimento de tristeza ou a preocupação com um prazo que termina daqui a duas semanas. Na verdade, pode ser possível que todos os animais compartilhem uma certa quantidade mínima de sensibilidade com as pessoas, que todos os animais tenham alguns sentimentos, ainda que primitivos. Os que vivem com animais domésticos, afirmam vigorosamente que os seus cães e gatos experimentam as dores e prazeres da vida. Qualquer pessoa que tenha observado um chimpanzé a fazer caretas ao espelho e em seguida a inspecionar os dentes e a parte traseira, irá conceder-lhe pelo menos uma forma limitada de auto-reconhecimento e de sentimentos de si. (…) Investigações detalhadas de biólogos comportamentais têm demonstrado que muitas outras espécies têm habilidades cognitivas complexas como as que ocorrem em seres humanos, e que estariam associadas com a consciência. Os polvos podem aprender uns com os outros; os corvos, gralhas, papagaios e outras aves podem realizar proezas de resolução de problemas, de percepção e de memorização, e até mesmo as abelhas (com menos de um milhão de células nervosas) podem reconhecer rostos individuais, aprender a navegar com marcas, e escolher um novo local para a colmeia por deliberações e vários dias de dança.”

aqui

(tradução ildateresacastro)

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The Cambridge Declaration on Consciousness

On this day of July 7, 2012, a prominent international group of cognitive neuroscientists, neuropharmacologists, neurophysiologists, neuroanatomists and computational neuroscientists gathered at The University of Cambridge to reassess the neurobiological substrates of conscious experience and related behaviors in human and non-human animals. While comparative research on this topic is naturally hampered by the inability of non-human animals, and often humans, to clearly and readily communicate about their internal states, the following observations can be stated unequivocally:

The field of Consciousness research is rapidly evolving. Abundant new techniques and strategies for human and non-human animal research have been developed. Consequently, more data is becoming readily available, and this calls for a periodic reevaluation of previously held preconceptions in this field. Studies of non-human animals have shown that homologous brain circuits correlated with conscious experience and perception can be selectively facilitated and disrupted to assess whether they are in fact necessary for those experiences. Moreover, in humans, new non-invasive techniques are readily available to survey the correlates of consciousness.

The neural substrates of emotions do not appear to be confined to cortical structures. In fact, subcortical neural networks aroused during affective states in humans are also critically important for generating emotional behaviors in animals. Artificial arousal of the same brain regions generates corresponding behavior and feeling states in both humans and non-human animals. Wherever in the brain one evokes instinctual emotional behaviors in non-human animals, many of the ensuing behaviors are consistent with experienced feeling states, including those internal states that are rewarding and punishing. Deep brain stimulation of these systems in humans can also generate similar affective states. Systems associated with affect are concentrated in subcortical regions where neural homologies abound. Young human and non- human animals without neocortices retain these brain-mind functions. Furthermore, neural circuits supporting behavioral/electrophysiological states of attentiveness, sleep and decision making appear to have arisen in evolution as early as the invertebrate radiation, being evident in insects and cephalopod mollusks (e.g., octopus).

Birds appear to offer, in their behavior, neurophysiology, and neuroanatomy a striking case of parallel evolution of consciousness. Evidence of near human-like levels of consciousness has been most dramatically observed in African grey parrots. Mammalian and avian emotional networks and cognitive microcircuitries appear to be far more homologous than previously thought. Moreover, certain species of birds have been found to exhibit neural sleep patterns similar to those of mammals, including REM sleep and, as was demonstrated in zebra finches, neurophysiological patterns, previously thought to require a mammalian neocortex. Magpies in particular have been shown to exhibit striking similarities to humans, great apes, dolphins, and elephants in studies of mirror self-recognition.

In humans, the effect of certain hallucinogens appears to be associated with a disruption in cortical feedforward and feedback processing. Pharmacological interventions in non-human animals with compounds known to affect conscious behavior in humans can lead to similar perturbations in behavior in non-human animals. In humans, there is evidence to suggest that awareness is correlated with cortical activity, which does not exclude possible contributions by subcortical or early cortical processing, as in visual awareness. Evidence that human and non- human animal emotional feelings arise from homologous subcortical brain networks provide compelling evidence for evolutionarily shared primal affective qualia.

We declare the following: “The absence of a neocortex does not appear to preclude an organism from experiencing affective states. Convergent evidence indicates that non-human animals have the neuroanatomical, neurochemical, and neurophysiological substrates of conscious states along with the capacity to exhibit intentional behaviors. Consequently, the weight of evidence indicates that humans are not unique in possessing the neurological substrates that generate consciousness. Non- human animals, including all mammals and birds, and many other creatures, including octopuses, also possess these neurological substrates.”

* The Cambridge Declaration on Consciousness was written by Philip Low and edited by Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edelman, Bruno Van Swinderen, Philip Low and Christof Koch. The Declaration was publicly proclaimed in Cambridge, UK, on July 7, 2012, at the Francis Crick Memorial Conference on Consciousness in Human and non-Human Animals, at Churchill College, University of Cambridge, by Low, Edelman and Koch. The Declaration was signed by the conference participants that very evening, in the presence of Stephen Hawking, in the Balfour Room at the Hotel du Vin in Cambridge, UK. The signing ceremony was memorialized by CBS 60 Minutes.

conference

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Suspensa Pesquisa Biomédica em Chimpanzés nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA : os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA acabam de anunciar que será encerrado todo o financiamento de pesquisa usando chimpanzés, indo mais longe do que a previsão anterior (de 2013), de manter 50 chimpanzés para experiências. . data : 18 Novembro 2015 . mais informação no National Institute of Health  20130626-henry-playing

NIH Will No Longer Support Biomedical Research on Chimpanzees :

the U.S. National Institutes of Health just announced this evening that it will be ending all its funding for research using chimpanzees, going further than its previously stated goal to keep 50 chimps for experiments (per a 2013 report).
date: 18 November 2015 – more info National Institute of Health

A recomendação “Criação de Locais Comunitários de Alimentação e Abeberamento de Animais Errantes” (cães e gatos), foi aprovada na Assembleia Municipal de Lisboa, em 17 Novembro 2015.

A proposta que passou a deliberação, deverá ser aplicada “quando pessoas ou grupo de pessoas que têm a seu cargo colónias de animais o solicitem, e se responsabilizem pela respectiva manutenção corrente, tornando a cidade de Lisboa mais limpa e compassiva.”

pode ser consultada aqui

data : 17 Novembro 2015

The recommendation “Creation of Community Sites for Food and Watering of Wandering Animals” (dogs and cats), was approved at the Municipal Council of Lisbon, on November 17, 2015.

The proposal that passed to resolution, should be applied “when people or group of people who are in charge of animal colonies request it and take responsibility for their routine maintenance, making the city of Lisbon cleaner and more compassionate.”

can be found here

date : 17 November 2015


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A Alemanha é o primeiro país do mundo a decidir que não quer continuar a moer milhões de pintainhos vivos – situação ‘resíduo’ da indústria de ovos em todo o mundo (…) a trágica realidade é padrão em todos os tipos de criação comercial – incluindo a criação ao ar livre.

Germany has become the FIRST country in the world to decide it no longer wants to grind up millions of live baby chicks — the disturbing ‘waste product’ of the worldwide egg industry (…) the tragic reality is standard across all types of commercial egg farming — free range included.

data/date : 21 October 2015

more info here / mais informação aqui

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Privação do direito de detenção de animais de companhia pelo período máximo de 5 anos :

Foi publicada esta quarta-feira a Lei n.º 110/2015, de 26/08, que estabelece um quadro de penas acessórias aplicáveis, cumulativamente com as penas previstas para os crimes contra animais de companhia (Quadragésima alteração ao Código Penal e terceira alteração ao Decreto -Lei n.º 315/2009, de 29 de outubro).

A partir da entrada em vigor desta alteração, que ocorre a 31 de agosto de 2015, por força do disposto no n.º 2 do artigo 2.º da Lei n.º 74/98, de 11/11, na redação vigente, a par das penas principais aplicáveis aos crimes de maus tratos e abandono de animais de companhia (p.p. nos artigos 387.º e 388.º do Código Penal), passam a poder ser aplicadas sanções acessórias, como a privação do direito de detenção de animais de companhia pelo período máximo de 5 anos (cfr. alínea a) do n.º 1 do artigo 388.º-A ora aditado).

Estão previstas também as penas acessórias de privação do direito de participar em feiras, mercados, exposições ou concursos relacionados com animais de companhia, encerramento de estabelecimento relacionado com animais de companhia cujo funcionamento esteja sujeito a autorização ou licença administrativa e suspensão de permissões administrativas, incluindo autorizações, licenças e alvarás, relacionadas com animais de companhia, em qualquer dos casos, por um período máximo de três anos (cfr. alíneas b) a c) do n.º 1 do referido artigo 388.º-A)

Foi também alterado o artigo 5º do DL n.º 315/2009, de 29 de outubro, que aprovou o regime jurídico da detenção de animais perigosos e potencialmente perigosos enquanto animais de companhia, aditando ao elenco dos indícios de falta de idoneidade já previstos e condicionantes da obtenção de licença, a condenação, por sentença transitada em julgado, por crimes contra animais de companhia.

Diploma disponível para consulta em: https://dre.pt/application/conteudo/70114079

data : 27 de Agosto 2015


. 5184 .

Lucros da SeaWorld caem 84% desde Blackfish (2013), documentário de Gabriela Cowperthwaite.

O filme providencia informações sobre os animais em cativeiro nos parques aquáticos.

site do filme : http://www.blackfishmovie.com/

trailer : https://www.youtube.com/watch?v=8OEjYquyjcg

SeaWorld sees profits plunge 84% as customers desert controversial park.

Company reports decline in attendance, sales and profits in continuing struggles for park since 2013 film Blackfish claimed it mistreated orca whales.


Trigueros del Valle, cidade espanhola, ratifica unanimemente a lei que concede a cães e gatos os mesmos direitos dos humanos.

Trigueros del Valle, a spanish town, has become the first in the world to give human rights to animals.

Julho 2015

notícia aqui / here


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Tribunal de Nova Delhi Reconhece aos Pássaros Direito a Liberdade e Dignidade

Tribunal de Nova Delhi, na Índia, faz história ao reconhecer que as aves têm o direito de “viver com dignidade”, voar onde quiserem, não serem presas em gaiolas, e pelos seus “direitos fundamentais” serem protegidas de crueldade. data: 18.05.2015 …

New Delhi Court: Birds Have Right To Freedom, Dignity

A high court in New Delhi, India, has made history by acknowledging that birds have the right to “live with dignity,” fly wherever they want without being trapped in a cage, and their “fundamental rights” protect them from cruelty. date: 18.05.2015 here ..


1014 .

Nova Zelândia Reconhece Legalmente os Animais Não-humanos Seres Sencientes

Uma alteração à lei da Nova Zelândia, em nome da The Animal Welfare Amendment Bill, aprovada na terça-feira, afirma que os animais, tal como os seres humanos, são seres sencientes . “Dizer que os animais são sencientes é afirmar explicitamente que eles podem experimentar emoções positivas e negativas, incluindo dor e angústia“, disse Virginia Williams, presidente do Comité de Consulta Nacional de Ética Animal. ..

New Zealand takes a monumental step forward for animals, allowing them to be legally recognised as ‘sentient’ beings

“An ammendment to ew Zealand law on behalf of the The Animal Welfare Amendment Bill, which was passed on Tuesday, states that animals, like humans, are “sentient” beings.

“To say that animals are sentient is to state explicitly that they can experience both positive and negative emotions, including pain and distress,” said Dr Virginia Williams, chair of the National Animal Ethics Advisory Committee.”

date : 12.05.2015

here Animal Welfare Amendment Bill .


A Declaração de Lisboa

A Declaração de Lisboa apela a uma reavaliação séria das condições e critérios pelos quais se continua a fazer experimentação animal.

A Declaração de Lisboa foi escrita pelo Dr. Philip Low, editada por Dr. Andrew Knight, Dr. João Barroso e Dr. Philip Low e ratificada na II Conferência Internacional sobre Alternativas à Experimentação Animal em Lisboa, Portugal, em 8 Maio de 2015. .

The Declaration of Lisbon

May 8, 2015 official signature of the The Declaration of Lisbon which calls for a serious reassessment of the conditions and criteria by which continues animal experiments. The Declaration of Lisbon was initiated and written by Dr. Philip Low, edited by Dr. Andrew Knight, Dr. João Barroso and Dr. Philip Low and was ratified at the II International Conference on Alternatives to Animal Experimentation in Lisbon, Portugal, on May 8 2015. During his keynote address, Dr. Phillip Low invited the speakers and participants to literally take a stand and sign the Declaration of Lisbon.

. Grupos de Protecção Animal Páram Concurso de Caça de Coyottes Animal Protection Groups Stop Coyote Killing Contest

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Animal Legal Defense Fund, Project Coyote Settle Lawsuit and Shut Down Illegal Gambling and Coyote Hunt

25 July 2014 – “Today, the national nonprofit Animal Legal Defense Fund (ALDF), along with co-plaintiffs Project Coyote and an individual Oregon resident, settled a lawsuit against Duane Freilino, organizer of the annual JMK Coyote Hunting Contest in Crane, Harney County, Oregon. (…) the killing contest and associated betting competition constituted a gambling enterprise, which is illegal and deemed a public nuisance in the state of Oregon, where under state law a court may stop illegal gambling events (…)”

in Animal Defense Legal Fund


.Ministers of Animal Welfare in Belgium

“Belgium, a federal state composed of three regions, will have in each region a minister of animal welfare. Important aspect: these ministers do not accumulate this competence with skills in agriculture, in order to understand that there is inconsistency between this area and the interests of animals. We welcome the association GAIA for having mobilized the initiative.”

Ministros de Bem-estar Animal na Bélgica

“A Bélgica, estado federal composto por 3 regiões (Flandres, Valónia e Bruxelas), passará a ter em cada região um ministro de bem-estar animal. Aspecto importante: estes ministros não acumulam esta competência com competências no domínio da agricultura, por entender-se que existe incompatibilidade entre esse domínio e os interesses dos animais. De saudar a associação GAIA por ter mobilizado esta iniciativa.”

na foto: O ministro da Valónia Carlo Di Antonio (cdh) presta juramento : “juro fidelidade ao Rei, obediência à Constituição e respeito às leis do bem-estar animal”

25 July 2014

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info here .

014 pelos direitos dos animais / for animal rights 1780715_10152188805127954_646588556_n ler aqui / read here

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.Vacas felizes ! Happy cows!

Mesmo na pecuária tradicional − uma vez que nos processos industriais de pecuária intensiva, a situação é substancialmente agravada − as vacas passam a maior parte de suas vidas em estábulos a servir para a reprodução e para a produção de leite. Quando a sua capacidade de produzir leite termina, deixam de ter utilidade para os humanos, passam a representar um custo financeiro em vez de um lucro, e são enviadas para matadouros e abatidas.

Este era também o destino de 25 vacas da localidade de Overath, perto de Colónia. Contudo, um conjunto de cidadãos decidiu possibilitar-lhes um envelhecimento e morte natural no local onde sempre viveram. Salvas dessa morte antecipada, a alegria que são capazes de viver e manifestar em contacto com o mundo natural é documentada no primeiro filme (abaixo), e a capacidade de utilizarem dispositivos técnicos para o seu próprio bem-estar, no segundo (abaixo).

Anke Heublein, uma das pessoas da vizinhança e fundadora da associação : O ano passado (em 2012), soubemos que as vacas iriam ser enviadas para o matadouro porque devido a problemas financeiros o fazendeiro não podia continuar a mantê-las. Nós viamos as vacas diariamente e não conseguimos aceitar a ideia de que fossem abatidas… foi por isso que criámos esta associação”.

A associação permite financiar as despesas para que as vacas possam continuar a viver.

Jan Muller, filho do fazendeiro : Eu gosto muito de vacas, são animais muito gentis. Fiquei muito triste quando soube que o meu pai não podia continuar a mantê-las. Agora estou feliz que possam ficar e envelhecer aqui.

Hans-Georg Janssen, padrinho da vaca Eva : Qualquer pessoa que veja como estes animais correram nos campos hoje, deve ter perguntado a si mesma “onde é que encontro algo assim?”. Isto é paixão pela vida, esta espontaneidade, este entusiasmo. Todos nós vimos. Há um dia em que temos de retribuir aos animais.

A época de pasto acabou e as vacas regressam ao estábulo.

Jan Muller : Penso que quando uma quinta não tem vacas, alguma coisa falta, porque as vacas trazem qualquer coisa de novo.

Anke Heublein : Sinto-me feliz quando estou perto destes animais e por lhes podermos proporcionar uma vida boa com a ajuda dos sponsors e dos membros que suportam financeiramente. Quando imagino que os animais podiam já estar mortos há ano e meio, apenas devido a razões financeiras… é muito duro! Torna ainda mais importante o facto de poderem viver aqui até terem uma morte natural. Isso deixa-nos muito orgulhosos e felizes.

Jan Muller : Quando estou com as vacas sinto-me como se estivesse num outro mundo, onde tudo é calmo e isso acalma-me também. Eu gosto de vacas, com elas posso fazer muitas coisas, são muito tranquilas. Também gosto de cavalos mas as vacas são mais calmas e mais relaxadas, deixam-nos mais serenos.

Anke Heublein : A escova eléctrica é uma novidade total, começou hoje a funcionar. Podemos comprar a escova eléctrica com donativos recolhidos especificamente para essa compra e como vemos está a ser muito apreciada, as vacas adoram escovar-se a si mesmas com este dispositivo. Podemos ver que o apreciam realmente e sem dúvida foi um bom investimento para elas.

mais info aqui e aqui / more info here and here


Golfinho pede ajuda a humanos e colabora para a receber! 

Este video mostra o resgate de um golfinho selvagem de um entrelaçamento entre a boca e barbatana peitoral esquerda. Mostra como pede ajuda aos mergulhadores que encontra e como pacientemente colabora para a receber. Dolphin comes out of nowhere and asks diver for help ! This video shows the rescue of a wild Bottlenose Dolphin from entanglement between its mouth and left pectoral fin. It is a testimony of a wild dolphin in need and the humans that “rescue” it.


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